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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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sem justa causa. Não queiram habituar-nos a achar normal o mundo do Mad Max, do Bla<strong>de</strong><br />

Runner ou do Robocop.<br />

Os senhores que nos dirigem <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong> e telemóvel não têm resposta para isto. Precisam, como<br />

nós, <strong>de</strong> mais esclarecimento por parte <strong>de</strong> sociólogos e economistas. Senão, <strong>um</strong> radical ainda<br />

propõe o seguinte: não abra conta n<strong>um</strong> banco – “use o colchão e os juros baixarão”; Não abra<br />

planos <strong>de</strong> poupança-reforma e não faça seguros – pense que amanhã <strong>um</strong> autocarro da Carris<br />

po<strong>de</strong>rá (<strong>é</strong> razoável supô-lo) atropelá-lo; Recuse-se a pagar impostos e a <strong>de</strong>scontar para a<br />

Segurança Social at<strong>é</strong> que lhe dêem provas <strong>de</strong> que <strong>um</strong> pobre <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> o ser e lhe assinem <strong>um</strong><br />

papel comprometendo-se a retribuirem-lhe os seus <strong>de</strong>scontos; Não vote em partidos que atirem<br />

as culpas para a mundialização, isto <strong>é</strong>, cujos dignitários tomem chá com o Chapeleiro Maluco;<br />

Emigre quanto antes para <strong>um</strong> país espaçoso e arejado on<strong>de</strong> ainda precisem <strong>de</strong> si.<br />

O bom senso dirá que isto se parece com as i<strong>de</strong>ias da extrema-direita americana. Ou que seria o<br />

caminho para o <strong>de</strong>scalabro económico. Talvez. Mas, então, expliquem-nos o que se está a<br />

passar. Caso contrário pensaremos que se trata do golpe final <strong>de</strong> propaganda do capitalismo<br />

selvagem.<br />

Era <strong>um</strong>a vez <strong>um</strong> país<br />

(Público, 14.04.96)<br />

Quem perceber o que se está a passar com a regionalização, <strong>é</strong> favor pôr o <strong>de</strong>do no ar. Três<br />

necessida<strong>de</strong>s nacionais estão a ser apresentadas como po<strong>de</strong>ndo ser satisfeitas atrav<strong>é</strong>s da<br />

regionalização: o <strong>de</strong>senvolvimento harmonioso, a distribuição mais justa <strong>de</strong> fundos, e a maior<br />

proximida<strong>de</strong> entre os cidadãos e a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões. Só que nada indica que esta<br />

regionalização seja potenciadora <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>senvolvimentos. Se os vícios e entraves políticos são<br />

já terríveis ao nível nacional, nada nos garante que venham a ser menos terríveis ao nível<br />

regional. Basta ver o que são as guerras “regionais” <strong>de</strong>ntro dos dois gran<strong>de</strong>s partidos políticos<br />

para se morrer <strong>de</strong> susto com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> regiões dirigidas por alguns dos seus protagonistas.<br />

Em vez – ou antes – <strong>de</strong>sta regionalização, há duas outras questões que me parecem ser mais<br />

relevantes. A primeira pren<strong>de</strong>-se com o facto <strong>de</strong> o governo central ter cada vez menos po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>cisão autónomo; a segunda, com o facto <strong>de</strong> termos <strong>um</strong>a experiência autárquica municipal<br />

interessante. Por <strong>um</strong> lado, se a Europa <strong>é</strong> o nosso espaço <strong>de</strong> futuro, muito há a fazer no sentido<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratizar as instituições europeias e <strong>de</strong> caminhar para <strong>um</strong>a integração em que a cidadania<br />

e a cooperação sejam as pedras <strong>de</strong> toque. Isto passaria, por exemplo, por formas mais arrojadas<br />

<strong>de</strong> articulação trans-fronteiriça com a Espanha. O episódio da reacção ridícula à “violação do<br />

espaço a<strong>é</strong>reo” por aviões espanhóis nas ilhas Selvagens (!) mostra as resistências atávicas a esta<br />

necessida<strong>de</strong>.<br />

Por outro lado, o “municipalismo” <strong>de</strong> que tanto se fala, talvez seja mais <strong>um</strong>a construção<br />

imaginária do que <strong>um</strong>a realida<strong>de</strong> histórica consolidada. Basta pensar nos cinquenta anos <strong>de</strong><br />

ditadura para se esf<strong>um</strong>ar a ilusão. Todavia, nos últimos vinte anos, os municípios tornaram-se<br />

espaços potenciadores <strong>de</strong> <strong>um</strong>a melhor vida em comunida<strong>de</strong>. A “regionalização” mais urgente<br />

pren<strong>de</strong>-se com o reforço financeiro dos municípios, o reforço do seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, e o<br />

estímulo <strong>de</strong> formas associativas inter-municipais; conglomerando municípios pequenos e<br />

<strong>de</strong>spovoados, e <strong>de</strong>smultiplicando os gran<strong>de</strong>s e inoperantes. Os grupos <strong>de</strong> municípios em que as<br />

actuais CCRs estão divididas po<strong>de</strong>m ser <strong>um</strong>a unida<strong>de</strong> válida <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento local,<br />

canalização <strong>de</strong> fundos e reforço do controlo <strong>de</strong>mocrático. Quem diz estes, diz as cerca <strong>de</strong><br />

cinquenta divisões propostas – salvo erro – por Ribeiro Teles e i<strong>de</strong>ntificadas, <strong>de</strong> há muito, por<br />

geógrafos, antropólogos e populações.<br />

Vivemos n<strong>um</strong> país <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z milhões <strong>de</strong> pessoas. Com <strong>um</strong>a extensão semelhante à da<br />

Andaluzia espanhola. Integrado n<strong>um</strong>a suposta Europa das regiões. Necessitamos <strong>de</strong> mais<br />

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