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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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<strong>de</strong>les. Longe disso: foi o mais à esquerda. Bom seria, pois, que a área política em que navego,<br />

pensasse <strong>um</strong> pouco sobre isto e sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer distinções. É certo que novas i<strong>de</strong>ias<br />

só ganham influência quando produzidas à margem do sistema. E que participar plenamente<br />

<strong>de</strong>le po<strong>de</strong> significar o apagamento <strong>de</strong>ssas i<strong>de</strong>ias pela banalida<strong>de</strong> pragmática. Mas momentos há,<br />

tamb<strong>é</strong>m, em que <strong>é</strong> preciso juntar forças, não dividir, encontrar <strong>de</strong>nominadores comuns. O aviso,<br />

todavia, aplica-se com ainda mais proprieda<strong>de</strong> à esquerda institucional, nomeadamente aos PSs:<br />

são eles que, por estarem próximo do centro e <strong>de</strong>ntro do sistema, mais obrigação têm agora <strong>de</strong><br />

se repensarem, <strong>de</strong> chamarem a si as opiniões minoritárias e alternativas, n<strong>um</strong>a tentativa <strong>de</strong><br />

inovação <strong>de</strong> discursos e práticas. Em vez <strong>de</strong> acusarem as alterida<strong>de</strong>s à esquerda <strong>de</strong> serem as<br />

causadoras das vitórias das extremas direitas (e das direitas; estas, <strong>de</strong> qualquer modo, sempre se<br />

uniram mais facilmente, pois agregam-se em torno “do que há” e não do que “po<strong>de</strong> vir a<br />

haver”).<br />

Res<strong>um</strong>indo: à esquerda institucional compete-lhe perceber que se atolou <strong>de</strong>masiado na gestão da<br />

globalização e que precisa <strong>de</strong> sangue fresco; à esquerda alternativa compete-lhe não se <strong>de</strong>ixar<br />

cair no simplismo confortável <strong>de</strong> culpar os outros e dizer que tem sempre razão pelo simples<br />

facto <strong>de</strong> ter as mãos limpas <strong>de</strong> governação. Ambas, por outro lado, precisam <strong>de</strong> ler o mundo<br />

contemporâneo com novos mapas, i<strong>de</strong>ntificar e atacar a ignorância e a estupi<strong>de</strong>z das novas<br />

massas tele-cons<strong>um</strong>istas, em vez <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculparem o seu comportamento com a carida<strong>de</strong><br />

sociológica ou com o fantasma do passado tra<strong>um</strong>ático da Europa.<br />

Social-<strong>de</strong>mocracia <strong>de</strong> Esquerda<br />

(Webpage, 6.05.02)<br />

Em Portugal (por causa da vitória da direita ) ou em França (por causa do susto LePen), a<br />

esquerda esperneia <strong>de</strong> aflição. Porquê? Porque, lá bem no íntimo, sente que tem culpas no<br />

cartório. Pouco importa qual a explicação (ou o bo<strong>de</strong> expiatório): ora <strong>é</strong> a esquerda mo<strong>de</strong>rada<br />

que governa ao centro e se submete à globalização neo-liberal; ora <strong>é</strong> a “extrema”-esquerda que <strong>é</strong><br />

sectária e divisionista; ora são os comunistas que não percebem em que mundo (já não) vivem.<br />

Explicações tão opostas e bo<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tão diferentes cores e pelagens não auguram nada <strong>de</strong> bom, a<br />

não ser a baralhação geral.<br />

No campo do “establishment”, os funcionários do bom senso esfregam as mãos. Jos<strong>é</strong> Manuel<br />

Fernan<strong>de</strong>s, director do “Público”, compraze-se com as platitu<strong>de</strong>s do cost<strong>um</strong>e: o problema da<br />

esquerda seria não perceber que o par <strong>de</strong>mocracia liberal / economia <strong>de</strong> mercado <strong>é</strong> a melhor<br />

coisa que há apesar dos seus <strong>de</strong>feitos. Esta postura “a la” Churchill dá imenso jeito: as coisas<br />

eventualmente melhorarão, mas at<strong>é</strong> lá <strong>é</strong> bom que fiquem como estão.<br />

Continuo a achar que ser <strong>de</strong> esquerda <strong>é</strong>, no fundo, achar que as coisas não <strong>de</strong>vem ficar como<br />

estão; e que as coisas po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser como são. Esta postura faz-me sentir <strong>de</strong>sconfortável<br />

com duas posições correntes: <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, com a direita, “et pour cause”; e, <strong>de</strong>pois, com gran<strong>de</strong><br />

parte da esquerda on<strong>de</strong> insisto em navegar, pela sua insistência em se recusar a pensar nas<br />

potencialida<strong>de</strong>s do actual sistema, e pela casmurrice com a i<strong>de</strong>ia utópica <strong>de</strong> transformação<br />

radical da socieda<strong>de</strong> e da economia.<br />

Eu (e muitos outros, espero) embirro solenemente com o <strong>de</strong>missionismo fatalista do<br />

“mainstream” PS face à <strong>de</strong>mocracia liberal e à economia <strong>de</strong> mercado que temos; mas embirro<br />

tanto ou mais (porque se <strong>de</strong>ve embirrar mais com os que nos são próximos, e ser mais exigentes<br />

em relação a eles) com a retórica utópica e revolucionária (mesmo quando congelada<br />

criogenicamente). Aqui vai, então, a bomba (ah, o meu fundo anarquista!): tamb<strong>é</strong>m acho que a<br />

<strong>de</strong>mocracia liberal <strong>é</strong> a coisa melhorzinha; tamb<strong>é</strong>m acho que a economia <strong>de</strong> mercado está mais<br />

próxima do comportamento económico das pessoas e socieda<strong>de</strong>s do que <strong>de</strong> <strong>um</strong>a criação<br />

historicamente relativa chamada capitalismo.<br />

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