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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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os seus amigos são vítimas do heterossexismo. Mas quando, dias <strong>de</strong>pois, resolve contar o<br />

episódio a outra pessoa, que não havia estado no jantar, a certo momento você diz: “Foi incrível<br />

como ningu<strong>é</strong>m reconheceu que nós <strong>é</strong>ramos as únicas pessoas <strong>de</strong> facto casadas ali”. E qual <strong>é</strong> a<br />

resposta que obt<strong>é</strong>m do outro lado, veloz, imediata, instintiva, marcando o óbvio?: “Mas vocês<br />

NÃO são casados”.<br />

Desligado o telefone, você ainda terá que ouvir, n<strong>um</strong> qualquer programa <strong>de</strong> TV “sobre<br />

homossexualida<strong>de</strong>” (aí, sim, já gostam <strong>de</strong> falar da sua “condição”) o eterno discurso sobre como<br />

se toleram os homossexuais e não se tem nada contra eles <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se exibam e não sejam<br />

folclóricos, “porque nós tamb<strong>é</strong>m não andamos a apregoar a nossa heterossexualida<strong>de</strong>”.<br />

Já não há paciência, não acha?<br />

Sem título<br />

(Webpage, 19.10.01)<br />

O último número da “New York Review of Books” publica <strong>um</strong> artigo intitulado “The Terror”.<br />

O autor, Philip C. Wilcox Jr. foi oficial do U.S. Foreign Service e Embaixador Especial dos<br />

EUA para o Contraterrorismo <strong>de</strong> 1994 a 1997. O que se po<strong>de</strong>ria esperar <strong>de</strong>ste curricul<strong>um</strong><br />

contrasta com o conteúdo do texto. Nele, Wilcox afirma sem hesitações que o ataque militar ao<br />

Afeganistão releva <strong>de</strong> <strong>um</strong>a estrat<strong>é</strong>gia errada, porque ineficaz. Para ele, o terrorismo não <strong>é</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificável em termos <strong>de</strong> bases e armamento e organiza-se em estruturas clan<strong>de</strong>stinas que<br />

operam sobretudo no próprio Oci<strong>de</strong>nte. A estrat<strong>é</strong>gia correcta, para Wilcox, <strong>é</strong> simples e<br />

tripartida. Em primeiro lugar, <strong>de</strong>fensiva, a<strong>um</strong>entando os mecanismos <strong>de</strong> segurança nos voos,<br />

por exemplo; em segundo lugar, <strong>de</strong>ver-se-ia melhorar a “inteligência” sobre o terrorismo; por<br />

último, <strong>é</strong> necessário avançar para a resolução dos problemas políticos e económicos no mundo<br />

on<strong>de</strong> são gerados o fundamentalismo e o terrorismo. Por fim, Bin La<strong>de</strong>n ou outro qualquer são<br />

mais facilmente capturáveis atrav<strong>é</strong>s da pressão diplomática, com recurso a intermediários<br />

políticos, do que atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>amentos ou invasões.<br />

<strong>Este</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong> artigo escrito por <strong>um</strong> homem que não só tem o curricul<strong>um</strong> que tem, como, enquanto<br />

americano, com certeza sentiu os atentados <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> forma bem mais avassaladora<br />

que nós, habitantes da periferia. <strong>Este</strong> artigo torna ridículas as páginas e páginas escritas pelos<br />

“falcões” portugueses, em que a situação pós 11 <strong>de</strong> Setembro serve mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpa para <strong>um</strong><br />

ataque generalizado à esquerda do que como escape para a revolta sentida. Mas tamb<strong>é</strong>m ajuda a<br />

perceber o exagero retórico e alg<strong>um</strong> anquilosamento i<strong>de</strong>ológico e <strong>de</strong> referências da esquerda, na<br />

forma como alguns dos seus diabolizam os EUA, na forma como parecem ver na actual situação<br />

a continuação <strong>de</strong> situações antigas <strong>de</strong> simples imperialismo e na forma como parecem querer<br />

repetir velhas lutas abstractas e utópicas pela paz.<br />

Nos EUA, na Europa, nos países árabes e/ou islâmicos, em Israel ou on<strong>de</strong> quer que seja, há<br />

cabeças, vonta<strong>de</strong>s e forças para isolar <strong>de</strong> vez o terrorismo e o fundamentalismo, para combater<br />

<strong>um</strong>a or<strong>de</strong>m unipolar centrada nos EUA, para propor alternativas à globalização neo-liberal e<br />

para reinventar as instâncias <strong>de</strong> regulação internacional. Isso será tanto mais possível quanto à<br />

actual <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m não se apresentar como única alternativa formas <strong>de</strong> acção e pensamento<br />

baseadas no velho mundo da guerra fria, como fazem alguns sectores mais radicalói<strong>de</strong>s da<br />

esquerda. Combater Bush e os talibans não po<strong>de</strong> significar ficar-se pelo limbo utópico da<br />

neutralida<strong>de</strong> pacifista. Deve significar o começo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> construir alternativas<br />

baseadas na <strong>de</strong>mocracia, na regulação e na igualda<strong>de</strong> – da economia aos direitos cívicos, da<br />

gestão local à or<strong>de</strong>m global.<br />

Aos países on<strong>de</strong> proliferam talibans foram retiradas as hipóteses <strong>de</strong> usufruto da <strong>de</strong>mocracia –<br />

pelas intervenções oci<strong>de</strong>ntais, pela criação <strong>de</strong> sub<strong>de</strong>senvolvimento e/ou pelos ditadores, elites<br />

ou fundamentalistas locais (a maior parte das vezes todos coniventes entre si). Em países como<br />

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