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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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<strong>de</strong> se procurarem explicações complicadas, <strong>de</strong>vem procurar-se explicações simples, ainda que<br />

não simplistas. Ainda não perceberem que os EUA são neste momento <strong>um</strong> actor sem arg<strong>um</strong>ento<br />

ou guião <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que acabou a URSS. O seu objectivo <strong>é</strong> criar condições objectivas para manter a<br />

sua economia militar <strong>de</strong> p<strong>é</strong>. Nem que, para isso, tenha que provocar os conflitos em que, <strong>de</strong>pois,<br />

“tem que” intervir em nome da luta contra o terrorismo. Isto <strong>é</strong> tanto mais evi<strong>de</strong>nte, quanto, no<br />

plano internacional, já passou <strong>de</strong>masiado tempo sobre o 11 <strong>de</strong> Setembro: os horrores a que<br />

assistimos diariamente relativizam, com cada dia que passa, os ataques ao World Tra<strong>de</strong> Center.<br />

Algu<strong>é</strong>m acha mesmo, ainda, que os americanos passaram por <strong>um</strong>a coisa absolutamente<br />

excepcional e eticamente incomparável, tipo Holocausto? É por o 11 <strong>de</strong> Setembro estar a ser<br />

construído como <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> mito refundador que nas salas <strong>de</strong> cinema americanas não passa o<br />

filme 11”09”01, em que vários realizadores glosam o tema do 9/11 <strong>de</strong> forma que foi<br />

consi<strong>de</strong>rada “anti-americana” (não <strong>é</strong> verda<strong>de</strong>). Em vez disso, os americanos consomem O<br />

Senhor dos An<strong>é</strong>is (<strong>um</strong> exercício imbecil <strong>de</strong> pancadaria sobre pano <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> “fantasia” rasca,<br />

totalmente picada do imaginário medieval) on<strong>de</strong> Mal e <strong>Bem</strong> se <strong>de</strong>gladiam n<strong>um</strong> maniqueísmo<br />

simplório. Aposto que Bush adorou. Saídos do cinema, soldados negros e hispânicos<br />

americanos entram nos porta-aviões a caminho do M<strong>é</strong>dio Oriente.<br />

A Frente da Vida<br />

A <strong>um</strong> idiota alienado, pertencente à seita dos Raelianos, conce<strong>de</strong> <strong>um</strong>a televisão tempo <strong>de</strong> antena<br />

para que possamos ouvi-lo dizer que aceitaria ser clonado, pois isso significaria a imortalida<strong>de</strong>.<br />

A estupi<strong>de</strong>z h<strong>um</strong>ana <strong>é</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a elasticida<strong>de</strong> impressionante. Qualquer criatura clonada será<br />

sempre <strong>um</strong>a criatura diferente daquela a partir da qual <strong>é</strong> clonada. Pela simples razão <strong>de</strong> que<br />

nascerá e viverá noutro tempo, junto com outras pessoas, em relações diferentes, em instituições<br />

diferentes. Porque – novida<strong>de</strong> das novida<strong>de</strong>s! – <strong>é</strong> isso que faz a pessoa h<strong>um</strong>ana. Al<strong>é</strong>m <strong>de</strong><br />

tecnicamente imperfeita e, portanto, estupidamente arriscada, a clonagem reprodutiva <strong>é</strong> <strong>um</strong>a<br />

estupi<strong>de</strong>z e <strong>um</strong> logro que só revela o lado egocêntrico da reprodução. Mas, sejamos<br />

provocatoriamente radicais: não será apenas <strong>um</strong>a variante do <strong>de</strong>sejo que muita gente tem <strong>de</strong> se<br />

ver prolongada nos seus filhos? Sempre achei este <strong>de</strong>sejo irracional e, al<strong>é</strong>m disso, pernicioso<br />

para as crianças.<br />

Já a clonagem para fins terapêuticos será outra coisa. Po<strong>de</strong>r regenerar tecidos, c<strong>é</strong>lulas e órgãos<br />

parece-me não só racional como <strong>de</strong>sejável. Mas eis senão quando, os filisteus da Igreja do<br />

Vaticano – <strong>um</strong>a seita po<strong>de</strong>rosa mas que não acredita em extraterrestres (ou acredita?) – afligemse<br />

com o facto <strong>de</strong> isso ter <strong>de</strong> ser feito a partir <strong>de</strong> algo <strong>de</strong>masiado semelhante a <strong>um</strong> embrião.<br />

Talvez seja altura <strong>de</strong> lhes explicar que <strong>um</strong> embrião <strong>é</strong> vida mas não <strong>é</strong> <strong>um</strong>a pessoa h<strong>um</strong>ana?<br />

Pouco importa: aquilo que os preocupa verda<strong>de</strong>iramente não <strong>é</strong> a vida mas sim a manutenção <strong>de</strong><br />

certas estruturas sociais <strong>de</strong> tipo patriarcal e sexista. É por isso que os sectores do PS, permeados<br />

por Catolicismo explícito ou implícito, propõem legislar a inseminação artificial reservando-a<br />

apenas para casais <strong>de</strong> sexo diferente em relação estável. Quer isto dizer que as mulheres que<br />

queiram ter <strong>um</strong> filho sozinhas ou os casais <strong>de</strong> l<strong>é</strong>sbicas que <strong>de</strong>sejem que <strong>um</strong>a <strong>de</strong>las ou ambas<br />

tenham <strong>um</strong>a criança, <strong>de</strong>verão recorrer a one night stands, a amigos, ou à prostituição, sempre<br />

em circunstâncias <strong>de</strong> sexo pouco seguro.<br />

Quem quer impor <strong>um</strong> padrão absurdo aos outros entra sempre em contradição. É por isso que os<br />

paladinos da <strong>é</strong>tica científico-religiosa em Portugal não conseguem escon<strong>de</strong>r a sua inclinação<br />

padreca: acham eles que as crianças só <strong>de</strong>vem nascer do “amor”. A consequência lógica disto<br />

seria acharem que, <strong>de</strong> facto, <strong>é</strong> correcto permitir o aborto em casos <strong>de</strong> violação e mesmo nos<br />

casos em que a mulher não <strong>de</strong>seja a criança. Outra implicação <strong>é</strong> que as relações <strong>de</strong>vem elas<br />

próprias ser baseadas no amor, don<strong>de</strong> não <strong>de</strong>veriam queixar-se do divórcio. Et pour cause,<br />

<strong>de</strong>veriam aceitar que o amor entre duas mulheres possa ser o “lugar” certo para criar <strong>um</strong>a<br />

criança.<br />

Aliás: algu<strong>é</strong>m ainda tem paciência para a atitu<strong>de</strong> impensada das TVs em incluírem sempre <strong>um</strong><br />

padreco católico quando se discute qualquer coisa remotamente relacionada com a vida, a<br />

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