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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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contribuem com nada para a comunida<strong>de</strong>. Não há nada que aqueles senhores façam bem (ou<br />

para o bem) <strong>de</strong> quem quer que seja. A atenção que lhes <strong>é</strong> prestada <strong>é</strong> do domínio da prestação <strong>de</strong><br />

serviços a <strong>um</strong>a máfia nhurra, ignorante, manipuladora e envolvida em negócios suspeitos. Em<br />

vinte minutos <strong>de</strong> cobertura <strong>é</strong> perfeitamente possível não se ver <strong>um</strong>a só imagem <strong>de</strong> <strong>um</strong> jogo <strong>de</strong><br />

futebol.<br />

Segundo: alguns <strong>de</strong>sses estranhos personagens têm <strong>um</strong>a dupla função – a <strong>de</strong> militantes e<br />

dirigentes <strong>de</strong> partidos do centrão, especialmente do PSD. Sobre este partido tem a comunicação<br />

social gasto horas <strong>de</strong> emissão e quilos <strong>de</strong> papel. Mas trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a cobertura política? Não.<br />

Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias? Não. Trata-se <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra entre caciques, apresentada ao<br />

país como <strong>um</strong> facto político. Da suspeita <strong>de</strong> que os partidos do centrão seriam meros<br />

redistribuidores <strong>de</strong> cargos por clientelas (<strong>um</strong> pecado pelo qual a Áustria, por exemplo, está a<br />

pagar) passou-se à confirmação do facto e, pior, à aceitação <strong>de</strong> que esse <strong>é</strong> o normal estado das<br />

coisas. Não admira que, à direita com o PP, e à esquerda com o Bloco (e com o PCP imitando<br />

este), surjam as únicas intervenções verda<strong>de</strong>iramente políticas.<br />

Terceiro: <strong>de</strong>pois da catarse portuguesa usando Timor como pretexto, nunca mais ningu<strong>é</strong>m se<br />

preocupou com nada. O caso da Chech<strong>é</strong>nia <strong>é</strong> especialmente assustador, pois dirigentes políticos<br />

internacionais – os nacionais nem falam do assunto, sobretudo os que ocupam a presidência da<br />

UE – limitam-se a dizer que a Rússia está a fazer “uso excessivo da força” e congratulam-se<br />

com a aproximação à NATO. O que está a acontecer na Chech<strong>é</strong>nia salta à vista como sendo <strong>um</strong><br />

genocídio e a entrada n<strong>um</strong>a fase <strong>de</strong> barbárie <strong>de</strong> Estado, algo <strong>de</strong> imensamente mais grave do que<br />

o que está a acontecer na Áustria.<br />

Quarto: Moçambique, a ex-colónia em vias <strong>de</strong> “dar certo” e para on<strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> portugueses<br />

(a maioria dos quais facínoras, como pu<strong>de</strong> constatar no Maputo) acorrem para fazer pela vida,<br />

está em situação <strong>de</strong> catástrofe. Esta <strong>é</strong> tão “natural” como o aci<strong>de</strong>nte em ca<strong>de</strong>ia na A1 foi<br />

provocado pelo nevoeiro. É que à natureza sobrepõe-se (e antece<strong>de</strong>) o comportamento h<strong>um</strong>ano e<br />

as condições sociais e económicas. Portugal, centro <strong>de</strong>ssa fantasia chamada Lusofonia, está-se<br />

nas tintas para o que se passa em Moçambique: o dinheiro <strong>de</strong> ajuda chega da Holanda e dos<br />

países escandinavos e Portugal vai-se preocupando mais em não ferir as mafias angolanas do<br />

que em ajudar Moçambique. Supostamente o que aconteceu foi <strong>um</strong> azar e perante os azares<br />

resignamo-nos, a não ser quando os “nossos” emigrantes têm dinheiro e influência, como<br />

aconteceu na Venezuela.<br />

Ao contrário dos filmes, não tinha acordado d<strong>um</strong> pesa<strong>de</strong>lo. Tinha acordado para <strong>um</strong> pesa<strong>de</strong>lo.<br />

Aceita-se pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas<br />

(“Jornal Torrejano”, 16.03.00)<br />

Pertenço a <strong>um</strong>a estranha minoria. Cresci n<strong>um</strong>a família agnóstica, se não mesmo ateia, mas que<br />

não o <strong>é</strong> por militantismo. Creio que os sociólogos a classificariam como “secularizada”, algo<br />

que ombreia bem com a sua atitu<strong>de</strong> moralmente aberta (embora eticamente sólida), com valores<br />

cosmopolitas e <strong>um</strong>a <strong>é</strong>tica do trabalho equilibrada com o reconhecimento da importância do<br />

prazer. Nunca falámos mal da igreja ou do catolicismo; simplesmente passou-nos ao lado. Faço<br />

esta auto-<strong>de</strong>vassa da minha privacida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r dizer que me consi<strong>de</strong>ro insuspeito <strong>de</strong><br />

jacobinismo anti-clerical – algo que associo a pessoas que passaram por experiências difíceis <strong>de</strong><br />

perda da f<strong>é</strong> ou <strong>de</strong> passagem pelas “garras” <strong>de</strong> instituições religiosas mais antiquadas.<br />

Isto colocou-me n<strong>um</strong>a situação engraçada em relação ao presente <strong>de</strong>bate sobre a laicida<strong>de</strong> do<br />

Estado. Por <strong>um</strong> lado, parece-me <strong>um</strong> princípio tão óbvio do Estado <strong>de</strong> direito <strong>de</strong>mocrático que<br />

quase bocejo; por outro espanto-me vezes sem conta com as reacções que provoca (O.K, aceito,<br />

se calhar não sou muito bom antropólogo, pelo menos nisto). Acontece, por<strong>é</strong>m, que nos últimos<br />

anos tenho passado longas temporadas no Brasil, trabalhando com segmentos marginalizados da<br />

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