13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

favorecimento na opinião pública da divisão em dois Estados. No lado palestiniano levou a <strong>um</strong>a<br />

situação em que já não sabemos quem são as forças mo<strong>de</strong>radas ou se Arafat controla alg<strong>um</strong>a<br />

coisa ou quer controlar alg<strong>um</strong>a coisa.<br />

Para a esquerda po<strong>de</strong>r continuar a usar a política internacional como <strong>um</strong> campo óptimo para<br />

pensar o seu projecto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>linear as suas escolhas <strong>é</strong>ticas e políticas, ela não po<strong>de</strong><br />

continuar a ter visões simplistas dos conflitos. Ela precisa <strong>de</strong> dizer coisas claras sobre a<br />

<strong>de</strong>mocracia; coisas claras sobre o nacionalismo e o Estado; coisas claras sobre as formas <strong>de</strong><br />

resistência e o terrorismo. Enquanto não as disser, não participo em manifestações on<strong>de</strong> corra o<br />

risco <strong>de</strong> parecer que apoio bombistas suicidas ou <strong>um</strong>a corrente <strong>de</strong> difuso anti-semitismo. Nem<br />

com a <strong>de</strong>sculpa da urgência ou da gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a situação – que <strong>é</strong> sempre a <strong>de</strong>sculpa para<br />

parar <strong>de</strong> pensar ou <strong>de</strong> usar crit<strong>é</strong>rios <strong>é</strong>ticos. Pena <strong>é</strong> que tudo continue na mesma na Casa da<br />

Esquerda, quando agora tínhamos condições para dar <strong>um</strong> salto qualitativo.<br />

Sem título<br />

(Webpage, 1.05.02)<br />

Algu<strong>é</strong>m me enviou <strong>um</strong>a fotomontagem mostrando <strong>um</strong> Durão Barroso vestido à Mao Tse Tung,<br />

encabeçando <strong>um</strong>a manifestação popular repleta <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras vermelhas. A piada vale o que<br />

vale: <strong>de</strong>monstrar a distância que vai do militante do MRPP nos idos <strong>de</strong> setenta, ao primeiro<br />

ministro do auto-proclamado centro-direita. Distância?<br />

Não tenho autorida<strong>de</strong> moral para brincar com essas coisas dos passados políticos. Na<br />

adolescência militei na juventu<strong>de</strong> do PCP e, todavia, sinto-me tão longe do “partidão” quanto o<br />

primeiro-ministro <strong>de</strong>verá sentir-se da seita maoísta. Tão pouco acho interessante as análises<br />

meio psicanalíticas que preten<strong>de</strong>m sempre encontrar no passado biográfico a explicação para<br />

<strong>um</strong>a qualquer tara do presente das pessoas.<br />

E no entanto... No entanto, <strong>é</strong> curioso verificar como são muitos os membros da classe política<br />

dirigente que, nos anos a seguir ao 25 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974, militaram ferozmente na extremaesquerda.<br />

Se não, vejamos: Pacheco Pereira foi militante dos sectores conhecidos como “m-l”,<br />

<strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> dissidências (ainda mais) fundamentalistas do PC; Jos<strong>é</strong> Manuel Fernan<strong>de</strong>s<br />

militou na área da UDP nos tempos em que esta se propunha reconstruir o PC e apoiava a<br />

Albânia; e, <strong>é</strong> claro, o próprio primeiro-ministro. Três exemplos apenas.<br />

Mas que exemplos. Pacheco Pereira conseguiu cozinhar para si próprio o estatuto <strong>de</strong> sábio<br />

político, mestre da <strong>é</strong>tica e paladino da in<strong>de</strong>pendência. Para tal basta, <strong>de</strong> vez em quando, criticar<br />

a sua própria área política, mantendo-se por<strong>é</strong>m em lugares <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m. Jos<strong>é</strong><br />

Manuel Fernan<strong>de</strong>s converteu-se às virtu<strong>de</strong>s do centro e do elogio da <strong>de</strong>mocracia liberal para –<br />

n<strong>um</strong> discurso dogmático e que recorre ao senso com<strong>um</strong> mascarado <strong>de</strong> bom senso – <strong>de</strong>slegitimar<br />

constantemente qualquer opinião política “<strong>de</strong>scentrada”. Durão Barroso..., bem, Durão Barroso<br />

ainda terá que <strong>de</strong>monstrar o que sabe fazer. Mas a julgar pelas taxas <strong>de</strong> sucesso que a escola da<br />

extrema-esquerda parece garantir, atrever-me-ia a prever que as virtu<strong>de</strong>s do neoliberalismo vãonos<br />

ser impingidas com o m<strong>é</strong>todo chinês do come-e-cala.<br />

Ningu<strong>é</strong>m na minha “geração” está isento <strong>de</strong> passados radicalizados. Nenh<strong>um</strong> <strong>de</strong> nós <strong>de</strong>veria<br />

negar esse passado, por <strong>um</strong>a questão <strong>de</strong> honestida<strong>de</strong>. E <strong>é</strong> certo que se apren<strong>de</strong>, se muda, se<br />

reavaliam valores. Mas, posto isto, há ou não diferenças <strong>de</strong> conteúdo nessas experiências do<br />

passado? A meu ver, sim. Lembro-me bem como o principal alvo <strong>de</strong> ataques – i<strong>de</strong>ológicos e<br />

políticos mas tamb<strong>é</strong>m físicos – da extrema-esquerda nos anos setenta era a esquerda<br />

“institucional”, nomeadamente o PCP. Lembro-me como era fácil para a extrema-esquerda<br />

aliar-se a sectores reaccionários para combater a esquerda. Lembro-me do autoritarismo e do<br />

moralismo (sobretudo nos cost<strong>um</strong>es, e <strong>de</strong> que maneira na sexualida<strong>de</strong>) <strong>de</strong>ssa extrema-esquerda.<br />

E lembro-me como, sociologicamente, a opção pela extrema-esquerda acontecia em meios<br />

113

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!