13.04.2013 Views

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sociais e familiares on<strong>de</strong> era igualmente possível e plausível a opção pela extrema-direita – e<br />

nunca pela esquerda “tout court”.<br />

Po<strong>de</strong>ríamos, então, e <strong>de</strong> forma metodologicamente atrevida, lançar a hipótese <strong>de</strong> que a melhor<br />

escola para criar <strong>um</strong> neo-liberal terá sido a extrema-esquerda das utopias totalitárias e prof<strong>é</strong>ticas<br />

das Chinas e Albânias socialistas? Os efeitos <strong>de</strong> tal pedagogia já se sentem: Pereira lança a<br />

farpa, Fernan<strong>de</strong>s escreve o editorial e Barroso legisla. Ao sairem dos maoísmos vários, não<br />

terão feito mais do que c<strong>um</strong>prir <strong>um</strong>a velha máxima do ditador chinês: “<strong>um</strong> passo atrás, dois em<br />

frente”. Parece que resulta: eles agora estão no po<strong>de</strong>r e nós nas mãos <strong>de</strong>les.<br />

Sem título<br />

(Webpage, 2.05.02 e “Boletim da Associação Abraço”, 2002)<br />

Há que ser “pessimisticamente” realista: provavelmente nunca chegaremos à situação <strong>de</strong> termos<br />

convencido toda a gente a precaver-se. Por duas razões muito simples e, neste caso, terríveis.<br />

Por <strong>um</strong> lado, porque a atracção sexual tem, para muita gente, <strong>um</strong>a forte componente <strong>de</strong> risco;<br />

por outro, porque nas relações sexuais com <strong>um</strong>a forte componente afectiva, a confiança<br />

sobrepõe-se ao cuidado. Nem n<strong>um</strong> caso nem noutro se conseguirá alterar hábitos e inclinações a<br />

100%. Se o conseguíssemos, isso significaria que teríamos castrado essas pessoas ou inventado<br />

pessoas completamente novas. Se o meu <strong>de</strong>sejo passa pela pulsão <strong>de</strong> morte que vai junta com a<br />

pulsão <strong>de</strong> vida (eros), que <strong>de</strong>sejo me sobra se for ultracuidadoso? Se o meu amor passa pela f<strong>é</strong><br />

na confiança absoluta na pessoa amada, que sobra <strong>de</strong>sse amor se eu estabelecer <strong>um</strong>a<br />

<strong>de</strong>sconfiança básica? Há que encarar esta realida<strong>de</strong> com... realismo.<br />

Posto isto, que sobra? Por <strong>um</strong> lado, há que dizer alto e bom som que as campanhas oficiais são<br />

miseráveis. Porque as pessoas encarregadas não sentem o problema? Porque reproduzem <strong>um</strong>a<br />

vergonha primária em relação às coisas do sexo? Porque são objectiva e subjectivamente<br />

controladas por valores e po<strong>de</strong>res conservadores? Talvez. Para que os reparos “realistas” do<br />

primeiro parágrafo não se transformem n<strong>um</strong>a “self-fulfilling prophecy” utilizável pelos<br />

conservadores, e para que as suspeitas <strong>de</strong> conservadorismo não se confirmem, sobra-nos <strong>um</strong>a<br />

estrat<strong>é</strong>gia dupla: a promoção da responsabilida<strong>de</strong> com base no amor (preferiria a expressão<br />

inglesa “caring”) e a brutalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a expressão verda<strong>de</strong>iramente sexual. Que quero dizer<br />

com isto? Por <strong>um</strong> lado, apelar ao impulso que todos temos para proteger aqueles que amamos, e<br />

não tanto apelar à nossa autopreservação (<strong>é</strong> que o sexo, sobretudo o anónimo ou ocasional, <strong>é</strong> o<br />

domínio por excelência do abandono da autopreservação, e isto por razões eróticas respeitáveis).<br />

Por outro, usar <strong>um</strong>a linguagem nua e crua que chegue ao próprio imaginário sexual, àquela zona<br />

que a linguagem do dia-a-dia, da publicida<strong>de</strong>, das campanhas e das boas intenções não tem<br />

permitido: <strong>é</strong> preciso usar calão, <strong>é</strong> preciso falar a linguagem da fantasia, at<strong>é</strong> mesmo a linguagem<br />

da pornografia. Talvez assim se consiga, entre outras coisas, erotizar o preservativo, pornografar<br />

a camisa <strong>de</strong> v<strong>é</strong>nus. Tomemo-la excitante e talvez consigamos alg<strong>um</strong>a coisa.<br />

Neste assunto só tenho <strong>um</strong>a certeza: com boas intenções, correcção política e/ou moralismo<br />

hipócrita não chegaremos lá. Antes correremos o risco <strong>de</strong> os apelos à segurança começarem a<br />

soar a <strong>um</strong> novo moralismo do qual toda a gente procurará fugir. Isto se ele próprio não se tomar<br />

n<strong>um</strong>a fonte para a contra-reacção erótica: “se me sugerem isto <strong>é</strong> porque me querem tirar o<br />

tesão”. Afinal <strong>de</strong> contas, as pessoas têm s<strong>é</strong>culos <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong>stas guerras <strong>de</strong> domesticação<br />

do <strong>de</strong>sejo. E sabem revoltar-se na intimida<strong>de</strong> dos quartos.<br />

Sem título<br />

(Webpage, 03.05.02)<br />

Sem dúvida que a “vitória” <strong>de</strong> LePen na primeira volta das eleições presi<strong>de</strong>nciais francesas nos<br />

<strong>de</strong>ve preocupar a todos. Mas qualquer coisa <strong>de</strong> estranho <strong>é</strong> perceptível nas reacções da esquerda,<br />

114

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!