Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>cadência pat<strong>é</strong>tica que os turistas gostam. Pu<strong>de</strong>ra, <strong>é</strong> como ir ao Burkina Fasso e gostar do<br />
exotismo dos autóctones, regressando rapidamente para casa, sem ter tido tempo <strong>de</strong> perceber<br />
que não têm água potável e morrem aos trinta anos.<br />
Quando <strong>um</strong> país (ou <strong>um</strong>a “Nação”...) existe há tanto tempo e não resolveu os seus problemas, a<br />
conclusão só po<strong>de</strong> ser que, se calhar, não vale a pena. Como cidadão e n<strong>um</strong> “mercado <strong>de</strong><br />
nações” livre (?) posso escolher outros sítios. Ir-me embora. Conclusão a que já cheguei há<br />
muito tempo, já pratiquei e não tarda nada praticarei <strong>de</strong> novo. Os afectos – <strong>um</strong>a nesga <strong>de</strong> vista<br />
sobre o rio <strong>um</strong>a vez por ano quando se vai ao Castelo, pessoas queridas, ou o à-vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
perceber os códigos – são coisas que se satisfazem facilmente com <strong>um</strong>as visitas ocasionais.<br />
Para terminar este longuíssimo <strong>de</strong>sabafo: <strong>um</strong>a das formas como os portugueses reproduzem a<br />
sua auto-gratificação idiota <strong>é</strong> fechando os olhos à Espanha e reproduzindo estereótipos<br />
negativos sobre ela. Agora foram <strong>um</strong> passo mais longe e começam a comprar a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os<br />
Espanhóis “vêm aí”. Enquanto este medo irracional <strong>é</strong> reproduzido, vão obsessivamente ao<br />
Brasil em busca “do melhor que Portugal fez” ou <strong>de</strong>dicam-se à cruelda<strong>de</strong> nostálgica da África<br />
colonial. Pois <strong>é</strong>: recusar <strong>um</strong> lugar cada vez mais europeu e civilizado e com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e<br />
liberda<strong>de</strong>, acarinhando lugares com as mais incríveis clivagens sociais, <strong>é</strong> mesmo <strong>de</strong> quem gosta<br />
<strong>de</strong> chafurdar na porcaria.<br />
Entretanto, o doce remanso vai sendo perpetuado por aqueles que, n<strong>um</strong> fantástico esforço <strong>de</strong><br />
retórica, dizem que estão a mudar tudo. Bagão F<strong>é</strong>lix quer <strong>um</strong> código <strong>de</strong> trabalho cuja única<br />
consequência será garantir que o lado terceiro mundista <strong>de</strong> Portugal continue, com salários<br />
baixos, emprego precário e sem direitos, em empresas dirigidas por cretinos que não hesitam em<br />
pedir dinheiro ao Estado – recusando assim quer o liberalismo a s<strong>é</strong>rio (ao contrário do que<br />
dizem), quer o Estado social <strong>de</strong> tipo europeu. Celeste Cardona e o escandaloso cancelamento da<br />
comissão <strong>de</strong> inqu<strong>é</strong>rito estão aí para provar que este continuará a ser o país da corrupção e do<br />
tráfico <strong>de</strong> influências. E Paulo Portas continuará a ven<strong>de</strong>r a imagem do bem-falante <strong>de</strong> classe<br />
alta cuja honra <strong>é</strong> ofendida <strong>de</strong> três em três minutos, enquanto hipocritamente vai dizendo<br />
banalida<strong>de</strong>s bafientas sobre a Família e a Nação.<br />
Pela parte que me toca, cada vez me fecho mais em casa, para não ter que lidar com as ruas.<br />
Prefiro procurar os meus amigos em sítios escondidos e fora <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> afluxo. Evito ao<br />
máximo o stress fren<strong>é</strong>tico e vazio <strong>de</strong> conteúdo da histeria portuguesa das reuniões e dos<br />
“<strong>de</strong>bates” e “iniciativas” a torto e a direito. Encomendo as compras cada vez mais pela internet.<br />
E frequento o Instituto Cervantes para falar Espanhol como <strong>de</strong>ve ser.<br />
Vosso,<br />
nem nacionalista nem compatriota mas concidadão da “Coisa Portugal”,<br />
<strong>Miguel</strong> <strong>Vale</strong> <strong>de</strong> <strong>Almeida</strong><br />
Introdução ao Terrorismo Cultural<br />
(Webpage , 11.02)<br />
Prólogo Pr<strong>é</strong>-terrorista<br />
Tenho-me <strong>de</strong>dicado a duas activida<strong>de</strong>s que exigem <strong>um</strong> <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> disciplina: as<br />
ciências sociais e a política. A primeira, <strong>de</strong> que fiz profissão, exige a disciplina da metodologia<br />
e o rigor da busca da objectivida<strong>de</strong> possível. A segunda, on<strong>de</strong> tento transpor os conhecimentos<br />
da primeira para a intervenção social, obriga a consi<strong>de</strong>rar o que <strong>é</strong> possível, conferindo <strong>um</strong><br />
gran<strong>de</strong> peso à estrat<strong>é</strong>gia e à táctica. Tenho feito a fuga aos constrangimentos <strong>de</strong> ambas as<br />
activida<strong>de</strong>s atrav<strong>é</strong>s <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, especialmente a escrita <strong>de</strong> ficção. Mas a<br />
136