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Bem-vind@! Este é um “livro” - Miguel Vale de Almeida

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perseguem os outros pela sua orientação sexual, cada vez mais se valoriza o m<strong>é</strong>rito e não se<br />

interfere na vida privada, e cada vez mais as leis protegem os direitos dos homossexuais e<br />

con<strong>de</strong>nam a discriminação. O processo <strong>é</strong> muito semelhante ao que levou a mais direitos cívicos<br />

para as mulheres e à menor aceitação social do machismo.<br />

O que <strong>é</strong> que eu posso fazer?<br />

Des<strong>de</strong> logo, o que não <strong>de</strong>ve fazer, para seu bem e <strong>de</strong>le: tentar convencê-lo a mudar, propor <strong>um</strong>a<br />

cura, ou cortar os laços. Não se convence algu<strong>é</strong>m a mudar <strong>de</strong> sentimentos e <strong>de</strong> impulso erótico,<br />

pois não se trata <strong>de</strong> <strong>um</strong>a escolha (a escolha <strong>é</strong> a <strong>de</strong> ter ass<strong>um</strong>ido e comunicado a orientação<br />

sexual); não se propõe <strong>um</strong>a cura, pois a homossexualida<strong>de</strong> não <strong>é</strong> <strong>um</strong>a doença (e quando se<br />

achava que o era, as “curas” <strong>de</strong> internamento psiquiátrico e <strong>de</strong> electrochoque, não curaram<br />

ningu<strong>é</strong>m: apenas <strong>de</strong>struíram as pessoas); e não <strong>de</strong>ve cortar os laços, pois isso só vai fazer com<br />

que ambos sofram e percam a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecerem melhor enquanto pessoas.<br />

O único caminho possível <strong>é</strong> o diálogo. Procure apren<strong>de</strong>r com o seu filho, esclarecer dúvidas<br />

com ele. Se ele tem <strong>um</strong> namorado, procure conhecê-lo, pois assim verá <strong>um</strong>a pessoa e não <strong>um</strong>a<br />

abstracção. Po<strong>de</strong> tamb<strong>é</strong>m procurar ler obras que versem o assunto. Em Portugal, as associações<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa dos direitos dos homossexuais dispõem <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> apoio e at<strong>é</strong> <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong><br />

discussão para pais que passaram pela sua situação. Se, ainda assim, se sentir perturbado, não se<br />

coíba <strong>de</strong> procurar ajuda psicológica: os psicólogos estão hoje mais dispostos a ajudar pessoas na<br />

sua situação do que a “curar” a homossexualida<strong>de</strong>.<br />

Pense bem: o seu filho, ao contar-lhe, está não só a respeitá-lo, como a dar-lhe <strong>um</strong>a prova <strong>de</strong><br />

carinho e estima. Está a contar-lhe a verda<strong>de</strong>. Está a dizer-lhe que você não fez nada <strong>de</strong> errado.<br />

E espera <strong>de</strong> si o que sempre esperou: que o queira feliz – especialmente no amor — seguindo o<br />

seu próprio caminho, n<strong>um</strong>a <strong>é</strong>poca que <strong>é</strong> necessariamente diferente daquela em que você viveu.<br />

Em s<strong>um</strong>a, o seu filho está a dizer-lhe que gosta <strong>de</strong> si, e que al<strong>é</strong>m do apoio e compreensão que<br />

sempre recebeu, agora espera tamb<strong>é</strong>m respeito. Um dia, quem sabe, você sentir-se-á orgulhoso<br />

do seu filho, por ele ter procurado a sua própria felicida<strong>de</strong> e não ter cedido às dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Nem violência nem nacionalismo<br />

(in<strong>é</strong>dito)<br />

Nos últimos tempos, a questão da ETA tem surgido nos jornais, n<strong>um</strong> <strong>de</strong>bate <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias<br />

envolvendo sobretudo a<strong>de</strong>rentes e responsáveis do Bloco <strong>de</strong> Esquerda, ou colocando esta<br />

formação na berlinda. Des<strong>de</strong> logo, nada <strong>de</strong> mais simpático: não só o Bloco <strong>de</strong>monstra<br />

pluralismo (o que, como se sabe, <strong>é</strong> sempre <strong>um</strong> projecto em construção, não <strong>um</strong> dado adquirido),<br />

como fá-lo nos jornais, <strong>um</strong>a vez que <strong>é</strong> tamb<strong>é</strong>m aí (e não só em se<strong>de</strong>s partidárias) que o <strong>de</strong>bate <strong>é</strong><br />

benvindo.<br />

Mas a princípio po<strong>de</strong> parecer estranho. Porquê esta questão e não qualquer outra, mais ligada à<br />

realida<strong>de</strong> portuguesa? Porque surge a questão da ETA como tema <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate no seio da esquerda<br />

e como questão boa para nela zurzir? Creio que isto se <strong>de</strong>ve a duas velhas questões que<br />

ganharam acrescida importância no mundo pós-muro <strong>de</strong> Berlim: a questão da legitimida<strong>de</strong> do<br />

uso da violência para fins políticos <strong>de</strong> libertação, e a questão da natureza emancipatória ou não<br />

do nacionalismo.<br />

Se a esquerda <strong>é</strong>, no sentido lato, <strong>um</strong> universo <strong>de</strong> afinida<strong>de</strong>s políticas composto por quem se<br />

preocupa com a eliminação das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e a afirmação das diferenças, n<strong>um</strong>a perspectiva<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução crítica dos mecanismos <strong>de</strong> opressão e <strong>de</strong> alienação, então ela <strong>é</strong> obrigada a<br />

pensar-se e repensar-se constantemente a si própria. Convenhamos que nem sempre o fez e que<br />

as consequências foram catastróficas. E reconheçamos que nas condições actuais (quer se lhes<br />

chame globalização neo-liberal, pós-socialismo ou at<strong>é</strong>, noutro plano, pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>) esse<br />

esforço <strong>é</strong> não só necessário, como imperativo. Em primeiro lugar, porque hoje só os idiotas<br />

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