Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
108<br />
Antes de Nós, sem nós<br />
DIACRÍTICA<br />
Ora, devemos começar por matizar: a ligaçom de galeguismo e<br />
europeísmo, habitualmente atribuída às gentes de Nós, nom é, na<br />
verdade, algo novo; senom que é patente ja, bem que com outras<br />
formas, no «regionalismo», o galeguismo <strong>do</strong> século XIX. Para apontálo,<br />
basta lembrar um texto capital, no movimento regionalista e na literatura<br />
galega, o livro Queixumes <strong>do</strong>s pinos (1886) de E. Pondal 3 ,<br />
ele mesmo figura emblemática <strong>do</strong> regionalismo. Significativamente,<br />
é o autor <strong>do</strong> «hino galego», que escreveu em 1890 4 e foi como tal<br />
a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> polo povo, tornan<strong>do</strong>-se em 1984 o oficial da nossa actual<br />
Comunidade Autónoma.<br />
Sinteticamente, podemos dizer que em Queixumes <strong>do</strong>s pinos Europa,<br />
além de Espanha e Portugal, está presente como umha referéncia<br />
geo-histórica, representada metonimicamente, por algumhas das suas<br />
partes, eminentemente polas terras e as gentes de Irlanda e Grécia e<br />
ainda, em menor medida, Zernagora. Em numerosos poemas, Galiza<br />
é analogada, comparada e confrontada, com as feiçons, os fastos e os<br />
fa<strong>do</strong>s de Irlanda e Grécia, e nalguns muito significativos, como o que<br />
cerra o livro, tamém com Zernagora 5 .<br />
Nestas analogias, o assunto central é a passage, em termos políticos,<br />
de «objecto» a «sujeito», ou seja, o movimento emancipatório em<br />
que é atingida umha libertaçom persoal e colectiva, como indivíduos<br />
cidadáns e como povo soberano. No caso de Galiza, como nas luitas de<br />
Irlanda ou na ja emancipada Grécia, trataria-se, pois, de deixar de ser<br />
«ilotas, escravos, servos», como diria Pondal 6 , para tornar-se naçom<br />
——————————<br />
«regionalismo» e «nacionalismo» galegos. Para umha exposiçom sumária, pode ver-se<br />
o nosso trabalho: L. G. Soto, «A Galiza e o galeguismo: autoconsciéncia e autodeterminaçom»,<br />
in Nova Renascença, n.º 72/73 Inverno/Primavera de 1999, Fundação Eng.<br />
António de Almeida, Porto, 2001, pp. 59-82.<br />
3 Eduar<strong>do</strong> Pondal, Queixumes <strong>do</strong>s pinos, Latorre y Martínez Editores, A Corunha,<br />
1886. Citarei pola ediçom facsimilar: La Voz de Galicia, A Corunha, 1979. Existe umha<br />
recomendável versom portuguesa: Queixumes <strong>do</strong>s pinheiros e Outros poemas, Cadernos<br />
<strong>do</strong> Povo, Pontevedra/Braga, 1996. Nom nos parece acertada a substituiçom de «pinos»<br />
por «pinheiros» (e outras vezes, «pinhos»), à vista da justificaçom <strong>do</strong> editor literário,<br />
A. Brea (p. 121), cuja versom portuguesa estimamos em geral excelente.<br />
4 Está recolhi<strong>do</strong> em Queixumes <strong>do</strong>s pinheiros e Outros poemas, pp. 111-113.<br />
5 Carballo, na sua Historia da literatura galega contemporánea (Galaxia, Vigo,<br />
1981, 3.ª ed., p. 262), estabelece esta tripla ligaçom. Zernagora, segun<strong>do</strong> ele informa, é<br />
Crna Gora, o actual Montenegro, em Iugoslávia.<br />
6 Nomeadamente, em Queixumes <strong>do</strong>s pinos, nos poemas que fam o n.º 78 (p. 189)<br />
e o n.º 91 (pp. 223-224).