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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 163<br />

pois também disso se trata, da nossa política militar, torna-se de flagrante<br />

patência na observação de alguns da<strong>do</strong>s referentes ao perturba<strong>do</strong><br />

início <strong>do</strong> nosso século XIX. Vejamos: a nossa dívida pública<br />

evoluía com grandes perdas acumuladas principalmente a partir de<br />

1809. Sabemos uma das razões principais: as invasões. Entretanto,<br />

em 1821 verifica-se no orçamento um acentua<strong>do</strong> crescimento daquela,<br />

deven<strong>do</strong>-se muito, tal facto, a gastos projecta<strong>do</strong>s para o ramo da marinha.<br />

Atente-se, então: em 1793, a nossa frota militar era composta por<br />

34 vasos arma<strong>do</strong>s com uma potência de 1556 canhões; em 1821 tínhamos<br />

apenas 28, torna<strong>do</strong>s, entretanto, alguns <strong>do</strong>s mais potentes, ineficazes<br />

por deterioração, restan<strong>do</strong> uma potência de 992 canhões. Pois<br />

bem, no primeiro momento, dispunha a frota de 143 oficiais de todas<br />

as patentes; no segun<strong>do</strong>, dispunha, imagine-se! de 585 81 . Ou seja, to<strong>do</strong><br />

o investimento se destinava a pessoal que ficava desarma<strong>do</strong>! Como se<br />

vê, continua aqui a caber o que Bourgoing escrevera já, certamente de<br />

forma interesseira, no século anterior: «Se Portugal não é um inimigo<br />

que se deva desdenhar, falta-lhe muito para se tornar um alia<strong>do</strong> útil» 82 .<br />

Aquela espécie de excentricidade delirante ironizada por Pierre<br />

Carrere e que há pouco evocámos, é hoje bem retratada por Eduar<strong>do</strong><br />

Lourenço:<br />

«Quan<strong>do</strong>, nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XIX, Portugal, pela pena <strong>do</strong>s<br />

primeiros representantes de um novo Portugal – saí<strong>do</strong> da revolução<br />

liberal –, faz o balanço da sua situação no mun<strong>do</strong>, isto é, na Europa, e,<br />

ao mesmo tempo, se volta para o passa<strong>do</strong> para saber se ainda terá futuro,<br />

fá-lo já como se não fosse Europa, ou então como se fosse uma outra<br />

espécie de Europa. É então que se dá conta de até que ponto a sua<br />

situação é singular» 83 .<br />

Deste lote de consciências críticas <strong>do</strong> novo Portugal, consideramos<br />

que uma das percepções mais lúcidas da nação se espelhou nas palavras,<br />

tão meditadas quanto arrojadas, desse inteligente, notável e culto<br />

Fr. Francisco de S. Luís, o Cardeal Saraiva. Temos em mente o Manifesto<br />

da Nação Portuguesa aos Soberanos, e Povos da Europa. Nele<br />

haveria de ter um importante esteio o eminente e combativo Garrett,<br />

sobretu<strong>do</strong> nos escritos vintistas. Façamos um curto contexto e alguma<br />

——————————<br />

81 BALBI, op. cit.: 387.<br />

82 BOURGOING, op. cit.: 26<br />

83 LOURENÇO, Eduar<strong>do</strong>, Portugal como destino segui<strong>do</strong> de Mitologia da saudade,<br />

Lisboa, Gradiva, 1999, 2.ª ed.: 15/16.

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