Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
JUSTIÇA E PODER NOS TRIBUNAIS PLENÁRIOS DO ESTADO NOVO 263<br />
<strong>do</strong> tribunal quan<strong>do</strong> o julgamento já ia adianta<strong>do</strong> e mais de metade<br />
da sala <strong>do</strong> tribunal fora ocupada por agentes da PIDE, que, posterior e<br />
frequentemente, exerciam represálias sobre os assistentes, como aconteceu<br />
com o observa<strong>do</strong>r da UIE, expulso da sala, quarenta minutos<br />
depois <strong>do</strong> início da audiência, no supracitada audiência <strong>do</strong> processo a<br />
José Bernardino 51 .<br />
5. As medidas de segurança<br />
As medidas de segurança – mas sob o controle <strong>do</strong>s juízes – aparecem<br />
já instituídas pelo decreto-lei n.º 35:007 de 13 de Outubro de<br />
1945. Sê-lo-ão, contu<strong>do</strong>, de maneira ampla e precisa , pelo Dec.-Lei<br />
n.º 37:447 de 13 de Junho de 1949, e pelo Dec.-Lei n.º 40:550 de 12 de<br />
Março de 1956, sen<strong>do</strong> aplicáveis pelos Tribunais Plenários a simples<br />
pedi<strong>do</strong> da PIDE. No preâmbulo ao segun<strong>do</strong> destes decretos-leis, o<br />
legisla<strong>do</strong>r era da opinião que «não deviam conceder-se garantias individuais<br />
aos elementos socialmente perigosos por forma e com<br />
extensão excessivas, em termos de poderem constituir uma ameaça<br />
para os cidadãos honestos, que deviam ser eficazmente defendi<strong>do</strong>s<br />
contra os anti-sociais ou a-sociais»; por isso era de parecer que era um<br />
dever <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> prolongar as medidas de internamento de um preso,<br />
se se reconhecesse que continuava a ser, socialmente, perigoso (capaz<br />
de matar, roubar, furtar, incendiar, alterar a ordem publica, etc.),<br />
depois daquelas medidas terem termina<strong>do</strong>. A determinação e prorrogações<br />
<strong>do</strong> internamento ficariam, contu<strong>do</strong>, sob a jurisdição de um tribunal,<br />
no qual o réu pudesse ter as necessárias garantias de defesa<br />
(foi o que se fez com o dec-lei n.º 34:553 de 30 de Abril de 1945 art. 3.º<br />
e ss.). Perante o manifesto abuso <strong>do</strong> Poder que constituiam estas possíveis<br />
medidas coercitivas, o legisla<strong>do</strong>r defendeu-se, afirman<strong>do</strong> que «a<br />
incerteza <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> internamento e suas repercusões no espírito <strong>do</strong>s<br />
presos são males necessários», argumentan<strong>do</strong> em seu favor que<br />
pretender evitar esses males necessários com com um mal maior, ou<br />
seja, a inquietação <strong>do</strong>s elementos socialmente sãos e o risco das suas<br />
vidas e haveres, era afinal cuidar melhor de quem procediam pior, e<br />
resguardar os agressores. Por outro la<strong>do</strong>, instilar no réu, potencialmente<br />
perigoso, a crença no «carácter indefini<strong>do</strong> <strong>do</strong> internamento»,<br />
permitia não só mostrar-lhe que só dependia dele merecer a sua liber-<br />
——————————<br />
51 Pedro Ramos de Almeida, op. cit., p. 104.