Revista (PDF) - Universidade do Minho
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DIACRÍTICA<br />
ções 45 . E, perspectivan<strong>do</strong> a questão em termos de efeitos, concluirá<br />
sobre a consequente inevitabilidade da exígua produção da intelectualidade<br />
portuguesa. Numa mistura de pesar e crítica aos exageros<br />
de certas narrações, sistematizará desta forma os quadros que previamente<br />
descrevera da nossa literatura, língua e filosofia: «Eis uma curta<br />
exposição <strong>do</strong> triste esta<strong>do</strong> das ciências no reino mais ignora<strong>do</strong> de<br />
to<strong>do</strong>s os países da Europa; mas por mais deplorável que possa ter<br />
si<strong>do</strong>, pergunto aos meus leitores se não tinham uma ideia ainda mais<br />
desvantajosa» 46 .<br />
Esta espécie de respeitosa salvaguarda, fazem-nos ter como bem<br />
mais duros e chãos outros autores como Ranque, Dalrymple e Bourgoing,<br />
etc. É certo que o último futurou bom agouro a alguns gabinetes<br />
de nobres, se neles se instalasse alguma ordem, e concedeu excepção<br />
de qualidade à Academia Real de História. No entanto, expressões<br />
como: povo ignorante, supersticioso, da<strong>do</strong> ao despotismo…, povoam<br />
os escritos <strong>do</strong>s três, sobre nós. E para que não subsistissem ilusões<br />
relativas a outras academias a que fomos dan<strong>do</strong> guarida, concordaram<br />
em que elas eram mais pomposas de nome que de substância.<br />
Não deixaremos de falar sobre o conheci<strong>do</strong> e conceitua<strong>do</strong> Ruders.<br />
À semelhança de Link, insurgir-se-á contra alguns exageros conti<strong>do</strong>s<br />
no Tableau de Lisbonne. Todavia, não iludirá, neste campo, a obcessão<br />
censória e persecutória de Manique nem os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sistema em<br />
geral, ao constatar que to<strong>do</strong>s os livros que por cá podiam ser impressos<br />
e postos à venda, eram apenas os que fomentavam a superstição.<br />
Não negava, de facto, a existência entre nós de alguns homens ilustra<strong>do</strong>s,<br />
mas reconheceria também que «…em número muito restrito<br />
relativamente a outros países» 47 .<br />
Foi também praticamente unânime a representação construída<br />
acerca da nossa universidade. Muitos se referirão ao seu atraso e descrédito.<br />
Mas neste ponto, como sabemos, não desvirtuaram as leituras críticas<br />
que da mesma fizeram os nossos mais representativos ilustra<strong>do</strong>s.<br />
Um <strong>do</strong>s aspectos que quase sempre aparece associa<strong>do</strong> à decadência<br />
das nossas letras e ao atraso cultural e civilizacional <strong>do</strong> povo e<br />
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45 LINK, M., Voyage en Portugal depuis 1797 jusqu’en 1799, 3 tomes. Paris, Chez<br />
Levrault, Schoell et C.gnie, Libraires, 1805, II: 289/290.<br />
46 LINK, op. cit., II: 212<br />
47 RUDERS, Israel Carl – Viagem em Portugal – 1798-1802. Trad. de Antonio Feijó,<br />
preparação e notas de Castelo Branco Chaves. Lisboa, Biblioteca Nacional, 1981, [1805-<br />
-1809]: 224 e 269.