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178 DIACRÍTICA para poder existir. Esta alternativa é igualmente simples e clara: «ou continuar a ser potência independente, mas independente deveras, – ou voltar a ser província de Espanha» 123 . Finalmente, e seguindo uma estratégia de a ninguém deixar indiferente, desfila no palco a contabilidade dos teres e dos haveres e do que a cada um caberá segundo as alternativas em confronto! Declama, então: «Sem dúvida, todas as inclinações e desejos e vontades dos Portugueses, de preferência tendem a escolher a primeira parte da alternativa. Fosse como fosse arranjada a união, por mais vantajosas, e da parte da Espanha condescendentes, as condições de nossa renúncia à independência, absolutamente falando, Portugal será o lesado no contrato. A massa do povo, a plebe propriamente dita, as classes menos influentes do Estado pouco perdem, e porventura muito podem ganhar, na fusão de uma potência pequena em uma grande, se a fusão for voluntária, se, não por conquista mas por cessão, o país menor abdicar a soberania em favor do maior. Mas todos quantos por nascimento, por cabedais, por mérito pessoal, sobrepujam em consideração, e se elevaram da massa geral a toda e qualquer espécie de preeminência social, esses perderão tudo com a união, e serão obrigados a entrar na nulidade política e social de que por seu talento ou valor, ou importância adquirida ou herdada, tinham saído. Não se enganem, não se iludam os Portugueses neste ponto: pesem bem todos os prós e contras de uma resolução que, apenas tomada, será irrevogável; ou, quando o não seja, só à custa de muito sangue, de um monte de calamidades, que sem horror não é possível calcular, poderá ser, e talvez nem assim, revogada. Como é notório, o alvo aparece luminosamente determinado, pois quem mais perde mais cautelas terá que ter! Por coincidência… são aqueles que, pelo seu indiferentismo ou traição, mais têm sido responsáveis pelo estado do país e, consequentemente, aqueles por quem sobretudo passa a indispensável mudança de sentido de actuação. Posta, então, assim, tragicamente a questão, dita Garrett os meios que restam para podermos preservar a independência com liberdade e tudo se ganhar, ganhando todos. São meios conhecidos, estes: instituições que convenham, constituição praticável, liberdade de imprensa… Tudo convergindo para um só método e um só fim: Liberdade. Garrett escreve 17 páginas neste exercício. Não deixará, contudo, de voltar à —————————— 123 Ib.: 199.
PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 179 carga com a alternativa polémica da união. Fá-lo em último lugar, como momento mais intenso do clímax da peça 124 . Dos 7 parágrafos que lhe dedica, 6 são novos apelos, directos ou dissimulados, para a evitar. A última linha e meia, sem qualquer aparente a propósito contextualizante, falará da eventual estruturação conveniente à pior alternativa para manter alguma dignidade, embora sem independência: «Talvez uma Federação… Mas suspendamos por ora todas as reflexões sobre este objecto». Afinal, o recado verdadeiro tinha sido dado no parágrafo anterior. O autor de Catão reeditava a parte final desta peça, de vários poemas revolucionários, de comunicados académicos, evocando, de modo adaptado, o Vivamos livres ou morramos homens! com simples alteração de forma, transformando o imperativo em convicta afirmação: «“Todos daremos o derradeiro sangue pela independência nacional”» 125 . Não houve palmas, obviamente, mas geraram-se, certamente, alguns efeitos, alguns bons efeitos. Pelo menos se atendermos à história do futuro imediato. A liberdade aconteceu com independência, e o caminho para a outra Europa ficou aberto. Claro que os resultados futuros são outro caso! BIBLIOGRAFIA CITADA ALBON – Comte d’, Discours politiques, historiques et critiques sur quelques gouvernemens de l’Europe, 3 vols, Londres, 1779-1785. Anedoctes du Ministere de Sébastien-Joseph Carvalho, Comte d’Oeiras, Marquis de Pombal, sous le Regne de Joseph I, Roi de Portugal,Varsóvia, Chez Janos Rovicki, 1783 BÁEZ, Enrique Moreno, Los cimientos de Europa. Universidade de Santiago de Compostela, 1996, 2.ª ed. BALBI, Adrien, Essai statistique sur le royaume de Portugal et d’Algarve comparé aux autres états de l’Europe, et suivi d’un coup d’oeil sur l’état actuel des sciences, des lettres et des beaux-arts parmi les portugais des deux hémisphères, 2 vols. Paris, Chez Rey et Gravier, Libraires, 1822. BOURGOING, J. Fr., Voyage du ci-devant duc du Chatelet en Portugal… 2 tomes. Paris, Chez F. Buisson, 1798. —————————— 124 Artigo XVII das pp. 219/220. 125 Ib.: 220.
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