Revista (PDF) - Universidade do Minho
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PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 143<br />
contraste entre indefinição e superioridade residirá, já o intuiu,<br />
também, Eduar<strong>do</strong> Lourenço 4 , a raiz objectiva da sua fragilidade.<br />
*<br />
Na dinâmica defini<strong>do</strong>ra da construção da identidade europeia e<br />
seus senti<strong>do</strong>s futuros, teve particular importância o tempo histórico<br />
<strong>do</strong> século XVIII e seus desenvolvimentos através da primeira metade<br />
<strong>do</strong> século XIX. Nesta base, desde logo ganham proeminência <strong>do</strong>is<br />
vectores que se tornarão inevitáveis critérios de valoração comparativa.<br />
Um deles é o que sobretu<strong>do</strong> dá substância e méto<strong>do</strong> ao grande<br />
movimento das Luzes, e resolve-se principalmente através de um<br />
novo paradigma de feição epistemológica com decorrências múltiplas.<br />
O outro tem que ver com a questão <strong>do</strong> poder e consubstancia-se<br />
sobretu<strong>do</strong> em torno da capacidade na vertente político-militar. Se o<br />
primeiro vector acaba por conferir a qualificação mais consagrada ao<br />
século XVIII, o segun<strong>do</strong> marca a história <strong>do</strong>s processos que darão, em<br />
larga escala, configuração à geografia política <strong>do</strong> velho continente.<br />
Com efeito, a Europa experimentará nesta época uma intensíssima actividade<br />
diplomática e bélica, não tanto virada para os conflitos internos<br />
<strong>do</strong>s países, mas para a relação entre os Esta<strong>do</strong>s, ten<strong>do</strong> no horizonte as<br />
relações de poder e a pressão de uma balança estável. As contas de<br />
Georges Rudé 5 não deixam espaço a dúvidas. No século <strong>do</strong>s valores<br />
da Humanidade, da Tolerância e da Paz, <strong>do</strong>is em cada três anos foram<br />
de guerras sangren-tas, normalmente precedidas e assistidas por uma<br />
quase sempre inútil quanto febril actividade diplomática.<br />
Desta forma, a cultura, as ciências e as artes e tu<strong>do</strong> o que elas<br />
potenciam, concretamente no campo <strong>do</strong> progresso e da civilização <strong>do</strong>s<br />
países e <strong>do</strong>s povos e na abertura e renovação das mentalidades, bem<br />
como a capacidade de intervenção política, escudada sobretu<strong>do</strong> no<br />
poderio militar e condições da sua sustentação, tornaram-se critérios<br />
decisivos no julgamento da grandeza das nações 6 .<br />
——————————<br />
4<br />
LOURENÇO, Eduar<strong>do</strong>, A Europa desencantada – Para uma mitologia europeia,<br />
Lisboa, Visão, 1994.<br />
5<br />
RUDÉ, Georges, A Europa no século XVIII, Lisboa, Gradiva, 1988: 303/304.<br />
6 Estes critérios continuam a ser enuncia<strong>do</strong>s por Eduar<strong>do</strong> Lourenço no artigo<br />
«A Europa em questão» (1989), in LOURENÇO, E., op. cit., p.46, já que o primeiro <strong>do</strong>s três<br />
que nomeia estava em perda, no tempo em causa. Veja-se: «Sob a tríplice caução de<br />
Deus, da Ciência e da Força, a Europa, pequeno cabo da Ásia, podia pensar-se mesmo<br />
para quem não era Hegel como centro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e modelo de civilização».