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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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144<br />

DIACRÍTICA<br />

O que foi Portugal nesta Europa e neste perío<strong>do</strong> que o marcou<br />

indelevelmente até aos nossos dias, tem si<strong>do</strong> objecto de algumas análises<br />

7 que cruzam a nossa ambiência de contra-luzes com pertinácias<br />

que, embora a não superem, pelo menos a diluem. Contu<strong>do</strong>, partilhamos<br />

a opinião extensiva de António José Saraiva quan<strong>do</strong> indica<br />

como importante recurso para o conhecimento de um país, a imagem<br />

que dele existe no exterior 8 . Por um la<strong>do</strong>, e no caso concreto, a natureza<br />

censória e repressiva que marcou este nosso tempo histórico,<br />

acresce a pertinência deste recurso; por outro, sabemos quanto a<br />

eficácia da difusão supera, muitas vezes, e devi<strong>do</strong> a circunstâncias<br />

várias, os efeitos da eventual menor justeza <strong>do</strong> que se transmite. E se<br />

é certo que nas representações se funda com primazia a opinião, e que<br />

esta é rainha <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, como enunciaram os enciclopedistas e na<br />

base <strong>do</strong> que agiram convictamente 9 , e como Garrett desenvolvida e<br />

repetidamente teorizou 10 , a opção de recurso a este olhar exterior<br />

parece-nos ser profícua e particularmente adequada à nossa circunstância.<br />

Com efeito, na época, uma importante parte dessa opinião fun<strong>do</strong>u-se<br />

claramente nas representações que verdadeiros ou pretensos<br />

forasteiros, interesseiramente ou não, veicularam sobre nós. Bastará,<br />

para tanto, folhear algumas fontes da época, facilmente credíveis<br />

ao público leitor, como são obras históricas ou literárias, para nos<br />

apercebermos de tal. Neste campo concordamos com a apreciação <strong>do</strong><br />

conheci<strong>do</strong> estudioso desta matéria Castelo Branco Chaves 11 . Assim,<br />

——————————<br />

7 Nós próprios já fizemos um estu<strong>do</strong> desta realidade seguin<strong>do</strong> o trajecto da<br />

recepção <strong>do</strong> autor <strong>do</strong> Contrato social em Portugal, desde as suas vicissitudes às consequências.<br />

Trata-se <strong>do</strong> escrito Rousseau em Portugal, da clandestinidade setecentista à legalidade<br />

vintista, Porto, Campo das Letras, 2000.<br />

8 Este olhar -«de fora para dentro, é de onde se vê tu<strong>do</strong>» – é também releva<strong>do</strong> por<br />

Eduar<strong>do</strong> Lourenço, referi<strong>do</strong> todavia aos nossos estrangeira<strong>do</strong>s. Acontece em «A Europa<br />

no imaginário português» (1992), in: LOURENÇO, E., A Europa desencantada – Para uma<br />

mitologia europeia, Lisboa, Visão, 1994, p.142.<br />

9 É assim que se exprime Voltaire, comunican<strong>do</strong>-o a d’Alembert em carta de 8 de<br />

Julho de 1765 (VOLTAIRE, Lettres Choisis, Paris, Chez Les Libraires associés, 1792, III: 214)<br />

10 Ver, por exemplo, O Português, n.º 145 (23 de Abril de 1827), n.º 238 (10 de Ag.<br />

de 1827), e 247 (21 de Ag. 1827).<br />

11 C. B. CHAVES estuda e conclui neste senti<strong>do</strong> em Os livros de viagens em Portugal<br />

no século XVIII, Lisboa, Ministério da Educação, (Biblioteca Breve). Diz a dada altura,<br />

com carácter de aplicação mais alarga<strong>do</strong>: «O francês, o inglês, o alemão que não podiam<br />

viajar, liam livros de viagens. Assim, nas literaturas europeias setecentistas, com excepção<br />

das de língua portuguesa e castelhana, os livros de viagem abundavam e sucediam-se.<br />

«Os filósofos e enciclopedistas aproveitaram os testemunhos <strong>do</strong>s viajantes em ilustração<br />

das suas teses e reforço <strong>do</strong>s seus argumentos, tendentes ao abalo <strong>do</strong>s princípios<br />

racionais em que a sociedade vivia organizada» (p. 10/11).

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