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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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68<br />

DIACRÍTICA<br />

-nações (o que, à escala da Europa, é relativamente recente). A verdadeira<br />

cultura não se situa aí: trata-se duma «cultura» estatizada,<br />

centralizada, unidimensional, voltada para o nacionalismo e direccionada<br />

para o centro. De resto, mesmo o estato-nacionalismo, que se<br />

assemelha tanto dum país a outro, é menos um produto tipicamente<br />

nacional que um produto europeu! Vejamos como certos países da<br />

Europa central e oriental retornaram tragicamente a este estádio, após<br />

a queda <strong>do</strong> bloco de Leste. Importa sublinhar que a cultura europeia é<br />

muito anterior a todas as pretensas «culturas nacionais», criadas com<br />

todas as peças no século passa<strong>do</strong>. As verdadeiras diversidades,<br />

também elas, não se situam ao nível estato-nacional, tal como as fronteiras<br />

linguísticas não correspondem às fronteiras estaduais.<br />

É nos «focos locais de criação» que radicam as diversidades propulsoras<br />

<strong>do</strong>s povos europeus. Historicamente, a cultura europeia<br />

dependeu durante séculos da existência e da vitalidade» dum certo<br />

número desses focos 142 : Viena, Milão, Paris, Oxford, Bolonha, Göttingen,<br />

Weimar, Cracóvia, Granada, Veneza, Praga, Florença, Bruges, Samtiago,<br />

Braga, Genebra, Pádua, etc… Assim, «a cultura europeia só pode<br />

ser explicada e compreendida, como a história, em duas bases: a das<br />

grandes correntes que atravessaram to<strong>do</strong> o continente e em to<strong>do</strong>s<br />

os senti<strong>do</strong>s, que são comuns a quase to<strong>do</strong>s os povos <strong>do</strong> continente; e<br />

os focos locais de criação, de ensino, de invenção» 143 . Ora, «a pintura,<br />

a música, a própria literatura – que tem a ver tão de perto com<br />

as línguas – nasceram em vários focos simultâneos ou sucessivos na<br />

Europa, foram transpostos de um desses focos para outro, duma<br />

região para outra, circularam através de toda a Europa, e nenhuma<br />

das histórias duma das nossas artes, tomada em si, coincide com as<br />

fronteiras de alguma das nossas nações de hoje» 144 .<br />

O esforço duma analítica mais profunda mostra que a cultura<br />

europeia não é monolítica, mas que se esclarece mediante tensões<br />

fecundas, por um conjunto de diversidades, mesmo de contradições.<br />

A oposição entre tradição e inovação equaciona-se logo no vasto panorama<br />

da história europeia; aos que têm por escopo conservar uma<br />

herança que os constituíu, Denis de Rougemont responde: «A questão<br />

que aqui se põe é tão simples que é difícil de resolver: em que momento<br />

——————————<br />

142 Id., Fédéralisme Culturel, op. cit., p. 11.<br />

143 Id., Inédits, Boudry-Neuchâtel, Éditions de la Baconnière, 1988, p. 23.<br />

144 Id., Écrits sur l’Europe, vol. I (1948-1961), Paris, Éditions de la Différence,<br />

1948/1994, p. 369 (Œuvres Complètes de Denis de Rougemont).

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