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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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156<br />

DIACRÍTICA<br />

e acrescentan<strong>do</strong> um insaciável parasitismo que consome e não trabalha<br />

53 ; por sua vez, o autor das Lettres écrites de Portugal 54 lamenta o<br />

far<strong>do</strong> oneroso que tal núcleo populacional constitui, a sua contribuição<br />

para o decréscimo da população, e o fanatismo interesseiro que<br />

manobra para manutenção <strong>do</strong> seu império; Murphy ironiza a constatação<br />

<strong>do</strong> eleva<strong>do</strong> número de clérigos cuja vocação seria mais própria<br />

para conduzir charruas 55 ; finalmente, sem que isso corresponda ao<br />

esgotamento <strong>do</strong> desfile, Dalrymple, à semelhança de Ranque, congratula-se<br />

por os conventos estarem em fase de diminuição.<br />

Este quadro de vida, de carácter e de moralidade <strong>do</strong> clero português,<br />

mesmo que desfigura<strong>do</strong> por enfático, não deixa de ter acentuada<br />

correspondência com o real. Confirmam-no muitas outras fontes de<br />

natureza vária, externas e internas. De facto, é um quadro que reflecte,<br />

a vários níveis, a subalternização <strong>do</strong>s interesses culturais em grande<br />

parte das casas que davam acolhimento a frades e freiras, e o baixo<br />

nível de formação <strong>do</strong> clero em geral. Ora, sen<strong>do</strong> precisamente neste<br />

segmento social que se centrava o principal pólo de difusão cultural, e<br />

onde radicava em mais eleva<strong>do</strong> grau o modelo de vida, nomeadamente<br />

moral, das populações em geral, não se torna difícil compreender o<br />

nosso descompasso global relativamente à comunidade europeia, e as<br />

fáceis generalizações, naturalmente acrescidas com colorações potencia<strong>do</strong>ras,<br />

<strong>do</strong>s forasteiros. É assim que P. Carrere, nas Voyages en Portugal,<br />

escreve que as mulheres portuguesas passam a vida à janela sem<br />

nada lerem 56 , que os intelectuais nada criam, que a filosofia nada<br />

avança da<strong>do</strong>s os entraves <strong>do</strong> poder que oprime o génio, comprime<br />

a opinião e retrai as ideias, dan<strong>do</strong>-se a lume meras traduções 57 ;<br />

Ph. Stevens, nas Lettres écrites de Portugal, traça um quadro pungente<br />

da nossa universidade, verberan<strong>do</strong> a inquisição e o peso <strong>do</strong>s conventos<br />

e <strong>do</strong> clero em geral que instiga ao fanatismo e à superstição, embora<br />

enalteça o esforço das reformas pombalinas; J. B. F. Carrere, no conheci<strong>do</strong><br />

Tableau de Lisbonne, pinta em 1796 a mesma situação com cores<br />

ainda mais negras e generalizantes; Murphy faz paradigma da situação<br />

geral com o Colégio <strong>do</strong>s Nobres que, embora a sobriedade e os costumes<br />

moralizantes fossem um seu apanágio, negligenciou as belas artes<br />

——————————<br />

53 BOURGOING, op. cit.,I: 53.<br />

54 Pp. 29 e 56.<br />

55 MURPHY, op. cit.: 221/22.<br />

56 P. CARRERE, op. cit.: 81<br />

57 Ib.: 233 e segs.

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