Revista (PDF) - Universidade do Minho
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166<br />
DIACRÍTICA<br />
demarcação <strong>do</strong> filosofismo absur<strong>do</strong> e desorganiza<strong>do</strong>r das sociedades;<br />
mas repõe-se o conceito de governo como garantia de busca e construção<br />
da felicidade <strong>do</strong>s povos, independentemente da forma que<br />
assuma 89 . Desmistificam-se os ferretes linguísticos de inovação perigosa,<br />
rebelião, ilegitimidade aplica<strong>do</strong>s à nossa revolução; mas pede-se a<br />
compreensão da opinião pública das nações ilustradas e <strong>do</strong>s gabinetes<br />
<strong>do</strong>s soberanos para a nossa mudança a caminho da dignidade 90 . Finalmente,<br />
afirma-se ter sempre e querer continuar a respeitar os negócios<br />
das outras nações; mas afiança-se que, seja qual for o sentimento e<br />
acções exteriores, «O Povo Português terá uma justa liberdade, porque a<br />
quer ter», e que «Jamais deixa de ser livre um povo que o quer ser» 91 .<br />
Garrett daria superior sequência e intensa fundamentação a estes<br />
enuncia<strong>do</strong>s, incarnan<strong>do</strong>, noutra época decisiva – 1830 –, que a<br />
primeira não bastara, a mesma ânsia de independência e de liberdade,<br />
condições imprescindíveis à grandeza de uma nação. Mas não foi só<br />
ele. Com efeito, a par de persistências laudatórias e incentiva<strong>do</strong>ras de<br />
compromissos e acções mais descomplexadas com a Santa Aliança<br />
para apoio a D. Miguel usurpa<strong>do</strong>r, como foi com o caso de J. J. Pedro<br />
Lopes 92 , outros houve que trilharam caminho no senti<strong>do</strong> de desacreditar<br />
trata<strong>do</strong>s secretos e «criminosas coalições» contra a liberdade <strong>do</strong>s<br />
povos a quem tratavam como rebanhos de ga<strong>do</strong> 93 , ou de engrossar o<br />
eco da impaciência <strong>do</strong> nação 94 . Neste caso, dadas as dificuldades<br />
de criação interna, que alguma houve, buscavam-se no exterior argumentações<br />
adjuvantes, traduzin<strong>do</strong> e divulgan<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> os objectivos<br />
coincidiam, como foi com o caso da <strong>Revista</strong> Politica da Europa que, em<br />
1825, denunciava com veemência as falsidades da Santa Aliança e as<br />
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89 Ib.: 331/2.<br />
90 Ib.: 336.<br />
91 Ib.: 337/8. O sublinha<strong>do</strong> é nosso.<br />
92 Temos em mira, para exemplo, o opúsculo por ele traduzi<strong>do</strong> <strong>do</strong> francês, Verdadeiros<br />
interesses das potências da Europa e <strong>do</strong> Império <strong>do</strong> Brazil relativamente aos actuaes<br />
negocios de Portugal. Por hum amigo da verdade e da paz. Trad. <strong>do</strong> francez por J. J. P. L..<br />
Lisboa, Na Impressão Regia, 1829. A posição referida é veiculada pelo conheci<strong>do</strong><br />
tradutor na «Prefação». Quanto ao anónimo opúsculo, inclui preciosismos interessantes,<br />
como o de entusiasmar D. Miguel a que, com urgência, faça um filho sucessor!… Como<br />
se vê, a esperança da facção não era fictícia.<br />
93 São ideias contidas no Dialogo sobre o futuro destino de Portugal ou Parabola<br />
VIII acrescentada ao Portugal regenera<strong>do</strong>, por D.C.N. Publicola, (Manuel Borges Carneiro)<br />
Lisboa, Na Imprensa Nacional, 1821.<br />
94 Leia-se Considerações sobre a causa da impaciencia <strong>do</strong>s Povos principalmente em<br />
Portugal, s.ed., s.d.