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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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8<br />

DIACRÍTICA<br />

-se com as Luzes 3 , emergin<strong>do</strong> em ideários, e mesmo em Planos para<br />

uma União Europeia, buscan<strong>do</strong> a paz universal e perpétua; todavia,<br />

a consciência europeia foi continuada por um plexo de análises e<br />

reflexões 4 , orquestrada em vários tons, susceptíveis de serem encaixadas<br />

à maneira duma construção polilogal. Neste senti<strong>do</strong>, Europa<br />

constituíu um arquitema privilegia<strong>do</strong> de debate filosófico, que dela<br />

tece uma abordagem pluriangular, da qual preten<strong>do</strong> agora evidenciar<br />

alguns registos.<br />

Mas Europa é, acima de tu<strong>do</strong>, uma «invenção cultural». Com<br />

efeito, Europa não nasce por imposição da geografia, tão variegada ela<br />

é nas suas multímodas variações, aliás, bastante indefinida. Europa<br />

não aparece por determinação da economia; foi, aliás, uma economia<br />

original, que surgiu tardiamente na Europa. Não brota tão somente<br />

das relações sociais, extremamente mutáveis que foram no decurso<br />

<strong>do</strong>s séculos. Não assoma também duma unidade histórica, tão frágil<br />

ela foi, ten<strong>do</strong> constantemente ruí<strong>do</strong> – o Império de Carlos Magno, o<br />

Império de Carlos V, a Liga de Esta<strong>do</strong>s de Napoleão, que se apoiaram<br />

na hegemonia – «uma parte que quis tornar-se no to<strong>do</strong>» 5 –, não provin<strong>do</strong><br />

dum esforço comum; foi antes o cenário acidenta<strong>do</strong> onde se moveram<br />

forças antagónicas vindas <strong>do</strong> Sul, <strong>do</strong> Este, <strong>do</strong> Oeste e <strong>do</strong> Norte.<br />

A Europa é, pois, nas palavras de Denis de Rougemont, uma «invenção<br />

cultural», a partir de tomadas de consciência sucessivas, desde as<br />

celebrações de mitos, da evolução científica, <strong>do</strong>s cantos de poetas, <strong>do</strong><br />

trabalho de artistas, às obras de intelectuais e de políticos imaginativos,<br />

que propuseram – quantas vezes sem sucesso! – uma série de planos de<br />

——————————<br />

3 Cf. estes nossos trabalhos: «La question de la paix dans le cosmopolitisme des<br />

Lumières», in: W. Tega, G. Ferrandi, M. Malaguti e G. Volpe (dir.), La Philosophie de<br />

la Paix, t. I, Paris, Vrin, 2002, pp. 241-253. «Filosofia e Ideia de Europa: cosmopolitismo<br />

e paz no «Iluminismo»», <strong>Revista</strong> Portuguesa de Filosofia, 58 (2) Abril-Junho 2002,<br />

pp. 223-254. «O ideal da paz e o utilitarismo: o europeísmo de Bentham», in: J. M.<br />

Bermu<strong>do</strong> Ávila (ed.), M. Lava<strong>do</strong> Fau (coord.), Reptes de la Razón Pràctica: tolerància,<br />

pluralisme, banalitat, Barcelona, Universitat de Barcelona, 2002, pp. 469-488.<br />

4 Cf. estes nossos trabalhos: «Europa, entre filosofia e política, em Ortega y<br />

Gasset», in: José L.Barreiro Barreiro e Luís Garcia Soto, Europa: mito e razón, Universidad<br />

de Santiago de Compostela, 2001, pp. 25-40. «Linguagem e europeísmo: babelização<br />

ou pluralismo linguístico?», Diacrítica, n.º 11, 1996, pp. 5-35. «O Ideal da Europa:<br />

Gadamer e a hermenêutica da alteridade», <strong>Revista</strong> Portuguesa de Filosofia, 56 (3-4)<br />

Julho-Dezembro 2000, pp. 319-332. «La Europa que viene: universalismo y diferencias»,<br />

<strong>Revista</strong> Internacional de Filosofía Política, Madrid, n.º 19, 2002, pp. 109-128.<br />

5 Conforme disse Gœthe a Riemer: J.W. Gœthe, Gespräche, 14 de Maio de 1808.<br />

Cf. Xavier Tilliette, «Europa <strong>do</strong> espírito e <strong>do</strong>s espíritos», in: Manfred Buhr e E. Chitas<br />

(coord.), O Património Espiritual da Europa, Lisboa, Ed. Cosmos, 1999, p. 34.

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