Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
JUSTIÇA SOCIAL E IGUALDADE DE OPORTUNIDADES 213<br />
de igualdade deve estar presente na definição das oportunidades propiciadas<br />
aos indivíduos pela estrutura social. Pode-se tratar da igualdade<br />
social, mas também e apenas da igualdade das liberdades básicas, ou<br />
ainda de um respeito igual por to<strong>do</strong>s, nas suas diferenças. Estan<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong>s reuni<strong>do</strong>s no mesmo plateau, não estamos sob nenhum «véu de<br />
ignorância» e somos <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s de boa vontade. Isto é, somos não apenas<br />
partes racionais mas também seres humanos razoáveis. Ser razoável<br />
significa ter a vontade de chegar a um entendimento sobre os termos<br />
de cooperação com os outros. Acresce que, neste caso, presumimos<br />
em to<strong>do</strong>s os outros a mesma disposição. O acor<strong>do</strong> a que almejamos<br />
diz respeito à interpretação correcta <strong>do</strong> conceito de igualdade de oportunidades.<br />
O problema decisional que afecta os indivíduos razoáveis acima<br />
descritos – aquilo que nós podemos ser, no nosso melhor – é explicável<br />
por aquilo a que o próprio Rawls chama os «ónus <strong>do</strong> juízo», ou «ónus<br />
da razão». Eles incluem a complexidade das provas, a dificuldade em<br />
determinar o peso relativo de tipos diferentes de considerações, o<br />
carácter vago <strong>do</strong>s conceitos e a sua sujeição a casos difíceis, a dificuldade<br />
em seleccionar valores e estabelecer prioridades e, last but not<br />
least, a influência da experiência pessoal de cada um na avaliação das<br />
provas e no pesar <strong>do</strong>s diferentes valores 14 .<br />
Os «ónus <strong>do</strong> juízo» não são apenas circunstâncias fortuitas e<br />
passageiras que possam ser ultrapassadas numa qualquer situação<br />
mais favorável. Eles são algo de estrutural e permanente. Uma vez<br />
admiti<strong>do</strong>s, devemos retirar daí as necessárias consequências para os<br />
diferentes exercícios da razão humana e, em particular, para aqueles<br />
exercícios que implicam juízos de valor.<br />
Se, para Rawls, os «onús <strong>do</strong> juízo» conduzem a um desacor<strong>do</strong><br />
razoável sobre as concepções <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e da vida ou, como ele prefere<br />
dizer, as «<strong>do</strong>utrinas abrangentes» a<strong>do</strong>ptadas por indivíduos e grupos,<br />
parece-nos evidente que esses onús se aplicam também à conceptualização<br />
<strong>do</strong>s princípios da justiça social, como é o caso <strong>do</strong> conceito de<br />
——————————<br />
poderá mesmo captar o cerne <strong>do</strong> conjunto da filosofia política <strong>do</strong> nosso tempo. Segun<strong>do</strong><br />
Kymlicka (1990: 5), «The idea of an egalitarian plateau for political argument is potentially<br />
(…) able to accommodate both the diversity and unity of contemporary political<br />
philosophy.»<br />
14 Cf. Rawls (1993: 54-58) e Rawls (2001: 35-37).