Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
NÓS E A EUROPA 117<br />
Desde nós, com nós<br />
Dentro da obra de Castelao, Sempre en Galiza, composto de quatro<br />
livros escritos entre 1935 e 1947 e publica<strong>do</strong>s em forma completa e<br />
definitiva em Buenos Aires em 1961 41 , contém a crónica da transformaçom<br />
de Galiza num sujeito jurídico-político 42 , com o seu estatuto de<br />
autonomia no quadro da república espanhola, e o desenho, junto com<br />
o memorial da projecçom passada, <strong>do</strong> projecto histórico deste sujeito,<br />
a naçom galega. Nas suas páginas, tem umha notável presença Europa,<br />
que aparece, dito muito sinteticamente, como cenário político, em que<br />
tamém se joga a sorte de Galiza, e como ocasiom para um projecto, que<br />
o é tamém <strong>do</strong> nacionalismo galego, a saber: a Uniom Europea.<br />
Com efeito, segun<strong>do</strong> salienta Castelao, Galiza tivo, tem e terá um<br />
lugar na Europa. Naquela altura, o espaço europeu estava conforma<strong>do</strong>,<br />
exclusivamente, polos esta<strong>do</strong>s soberanos, nom in<strong>do</strong> muito além<br />
da realidade geográfica. Nesse concerto ou, melhor dito, desconcerto,<br />
Galiza é, para Castelao, semelhante a Bretanha e Escócia 43 , que som<br />
entidades nacionais similarmente marginalizadas nos seus respectivos<br />
contextos estatais, França e Gram Bretanha. O nosso político, nas<br />
suas análises, pom a énfase, antes que nas similitudes destes povos e<br />
regions «celtas», na similar marginalizaçom estrutural que, como «naçons<br />
sem esta<strong>do</strong>» no seo dum «esta<strong>do</strong>-naçom», as tres padecem e que<br />
lhes empece o seu desenvolvimento económico e florecimento cultural.<br />
No caso de Galiza, Castelao analisa e demostra, polo miú<strong>do</strong> e in<br />
extenso, como a privaçom de capacidade política própria e a acçom da<br />
política estatal geral, incidin<strong>do</strong> – por activa esta e por passiva aquela –<br />
——————————<br />
41 Citarei por: Castelao, Sempre en Galiza, Akal, Madrid, 1980, 3.ª ed. Este texto,<br />
que reproduz a ediçom bonaerense de 1961, é reproduzi<strong>do</strong> facsimilarmente em:<br />
Castelao, Sempre en Galiza, Parlamento de Galicia & <strong>Universidade</strong> de Santiago de<br />
Compostela, Santiago, 1992, 2000.<br />
42 Sobre isto (quer dizer: Castelao, o nacionalismo e a autodeterminaçom), temonos<br />
debruça<strong>do</strong> no nosso texto ja cita<strong>do</strong>, «Galeguismo/Nacionalismo: da autoconsciéncia<br />
à autodeterminación». Ademais, lembramos: L. G. Soto, «Galicia, nación. Prospecciones<br />
analíticas y reflexiones meto<strong>do</strong>lógicas a tenor de Sempre en Galiza de A. D. Rdz.<br />
Castelao», in M. Segura Ortega & J. Rodríguez-Toubes Muñiz (eds.), Regiones, naciones<br />
y nacionalismos en el contexto final del siglo XX, <strong>Universidade</strong> de Santiago de Compostela,<br />
Santiago, 1994, pp. 97-108.<br />
43 Além de outras, som significativas as referéncias conjuntas a ambos países:<br />
Sempre en Galiza, p. 322, p. 330, p. 446. Tampouco falta, como é tradicional – umha<br />
constante – no nacionalismo galego, a referéncia a Irlanda, mas esta, nessa altura,<br />
tinha ja um outro estatuto no quadro europeu, ten<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong> a condiçom de esta<strong>do</strong><br />
soberano.