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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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214<br />

DIACRÍTICA<br />

igualdade de oportunidades 15 . Fica assim indicada a razão central<br />

pela qual, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo plateau igualitário, seres humanos<br />

racionais e razoáveis dificilmente chegarão a um acor<strong>do</strong> sobre a<br />

melhor concepção de igualdade de oportunidades de entre uma lista<br />

– no nosso caso, formada por duas alíneas, F e R – de concepções<br />

coerentes e consistentes.<br />

Mas avancemos um pouco – não muito, por falta de espaço – na<br />

justificação moral de F e de R. Para F, o valor da igualdade assenta na<br />

não discriminação. Tratar to<strong>do</strong>s e cada um com igual consideração<br />

e respeito significa não discriminar ninguém no acesso a carreiras e<br />

funções. Para a concepção R, pelo contrário, o valor da igualdade<br />

assenta na garantia estrutural <strong>do</strong> maior número possível de oportunidades<br />

– tanto no acesso a carreiras e funções como na possibilidade<br />

de escolhas de vida – para to<strong>do</strong>s os indivíduos. Tratar to<strong>do</strong>s e cada um<br />

com igual consideração e respeito significa compensar os que têm um<br />

ponto de partida mais desfavoreci<strong>do</strong>.<br />

A concepção F é talvez mais apelativa para uma visão individualista<br />

da sociedade <strong>do</strong> que para uma visão comunitarista ou, por outras<br />

palavras, só é apelativa para a comunidade na medida em que o é para<br />

o indivíduo. Este pode reconhecer a diversidade <strong>do</strong>s pontos de partida<br />

individuais – aliás, não o fazer seria cegueira – mas não a considera<br />

problemática. Prefere aceitar o risco e gosta desse risco.<br />

Já a concepção R parece mais apelativa para uma visão da sociedade<br />

mais comunitarista e menos individualista ou, por outras palavras,<br />

é mais apelativa para aquilo que os indivíduos querem fazer<br />

enquanto membros cooperantes da comunidade. Neste caso, os indivíduos<br />

têm maior aversão ao risco – tal como as partes na «posição<br />

original» de Rawls – e estão particularmente preocupadas com os mais<br />

desfavoreci<strong>do</strong>s pela sorte.<br />

Os adeptos da concepção R prefeririam viver numa sociedade de<br />

tipo rawlsiano, ou numa ordem social equivalente, na qual a igualdade<br />

de oportunidades estruturalmente assegura<strong>do</strong> não ferisse o seu senti<strong>do</strong><br />

moral e contribuisse para o respeito próprio de to<strong>do</strong>s e de cada um<br />

numa relação de reciprocidade. Por outro la<strong>do</strong>, os adeptos da concepção<br />

F sentir-se-íam constrangi<strong>do</strong>s numa sociedade assim ordenada.<br />

Pensariam talvez que não lhes competiria contribuir com os seus<br />

——————————<br />

15 Formulámos esta tese pela primeira vez e na sua versão mais geral em Rosas<br />

(1997).

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