Revista (PDF) - Universidade do Minho
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DIACRÍTICA<br />
igualdade de oportunidades 15 . Fica assim indicada a razão central<br />
pela qual, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo plateau igualitário, seres humanos<br />
racionais e razoáveis dificilmente chegarão a um acor<strong>do</strong> sobre a<br />
melhor concepção de igualdade de oportunidades de entre uma lista<br />
– no nosso caso, formada por duas alíneas, F e R – de concepções<br />
coerentes e consistentes.<br />
Mas avancemos um pouco – não muito, por falta de espaço – na<br />
justificação moral de F e de R. Para F, o valor da igualdade assenta na<br />
não discriminação. Tratar to<strong>do</strong>s e cada um com igual consideração<br />
e respeito significa não discriminar ninguém no acesso a carreiras e<br />
funções. Para a concepção R, pelo contrário, o valor da igualdade<br />
assenta na garantia estrutural <strong>do</strong> maior número possível de oportunidades<br />
– tanto no acesso a carreiras e funções como na possibilidade<br />
de escolhas de vida – para to<strong>do</strong>s os indivíduos. Tratar to<strong>do</strong>s e cada um<br />
com igual consideração e respeito significa compensar os que têm um<br />
ponto de partida mais desfavoreci<strong>do</strong>.<br />
A concepção F é talvez mais apelativa para uma visão individualista<br />
da sociedade <strong>do</strong> que para uma visão comunitarista ou, por outras<br />
palavras, só é apelativa para a comunidade na medida em que o é para<br />
o indivíduo. Este pode reconhecer a diversidade <strong>do</strong>s pontos de partida<br />
individuais – aliás, não o fazer seria cegueira – mas não a considera<br />
problemática. Prefere aceitar o risco e gosta desse risco.<br />
Já a concepção R parece mais apelativa para uma visão da sociedade<br />
mais comunitarista e menos individualista ou, por outras palavras,<br />
é mais apelativa para aquilo que os indivíduos querem fazer<br />
enquanto membros cooperantes da comunidade. Neste caso, os indivíduos<br />
têm maior aversão ao risco – tal como as partes na «posição<br />
original» de Rawls – e estão particularmente preocupadas com os mais<br />
desfavoreci<strong>do</strong>s pela sorte.<br />
Os adeptos da concepção R prefeririam viver numa sociedade de<br />
tipo rawlsiano, ou numa ordem social equivalente, na qual a igualdade<br />
de oportunidades estruturalmente assegura<strong>do</strong> não ferisse o seu senti<strong>do</strong><br />
moral e contribuisse para o respeito próprio de to<strong>do</strong>s e de cada um<br />
numa relação de reciprocidade. Por outro la<strong>do</strong>, os adeptos da concepção<br />
F sentir-se-íam constrangi<strong>do</strong>s numa sociedade assim ordenada.<br />
Pensariam talvez que não lhes competiria contribuir com os seus<br />
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15 Formulámos esta tese pela primeira vez e na sua versão mais geral em Rosas<br />
(1997).