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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 63<br />

Se «a Europa é a pátria da diversidade» 127 e se «Europa deve<br />

significar primeiramente união na diversidade e respeito das diversidades»<br />

128 , é mister reflectir sobre o tipo de unidade em questão, dessa<br />

«unidade não homogénea e que não resulta de um processo força<strong>do</strong> de<br />

uniformização, de nivelamento e de exclusão <strong>do</strong> que difere, mas que ao<br />

contrário engloba, e compõe largamente, numa comunidade cada vez<br />

mais complexa no decurso <strong>do</strong>s séculos, valores muitas vezes antinómicos,<br />

provin<strong>do</strong> de origens múltiplas, cujos contrastes e combinações<br />

mantêm tensões renovadas sem prazo» 129 . Importa então encontrar<br />

um conceito que possa exprimir a co-presença destes <strong>do</strong>is aspectos – o<br />

uno e o diverso –, manten<strong>do</strong> a dinâmica da relação que salvaguarda a<br />

unidade e a diversidade sem constituir uma mediação.<br />

Trata-se <strong>do</strong> que Denis de Rougemont chamava o problema federalista:<br />

«uma situação na qual se afrontam duas realidades humanas<br />

antinómicas mas igualmente válidas e vitais, de tal mo<strong>do</strong> que a solução<br />

não possa ser buscada nem na redução de um <strong>do</strong>s termos, nem<br />

na subordinação de um ao outro, mas somente numa criação que<br />

englobe, satisfaça e transcenda as exigências de um e de outro»; a<br />

solução federalista seria aquela «que toma como regra respeitar os <strong>do</strong>is<br />

termos antinómicos em conflito, compon<strong>do</strong>-os de tal mo<strong>do</strong> que a<br />

resultante dessa tensão fosse positiva» 130 . Nesta antinomia vital se<br />

vislumbra a base duma política consequente de tipo federalista adaptada<br />

à construção da Europa.<br />

A supressão metafísica da diversidade é, segun<strong>do</strong> Rougemont,<br />

típica da reflexão asiática; com efeito, para o bramanismo, como para<br />

o budismo, busca-se a anulação <strong>do</strong> indivíduo, a negação da diferença,<br />

a fusão <strong>do</strong> eu no Uno sem distinção. O Ocidente, ao contrário, desde a<br />

aurora da reflexão grega, procura manter os <strong>do</strong>is termos não em equilíbrio<br />

neutro, mas em tensão cria<strong>do</strong>ra; é o sucesso deste esforço sempre<br />

ameaça<strong>do</strong> e renova<strong>do</strong> que denota a saúde <strong>do</strong> pensamento europeu,<br />

a sua justeza, a sua medida ante o caos da massa indistinta ou sobre a<br />

anarquia <strong>do</strong>s indivíduos isola<strong>do</strong>s, quer se trate de realidades metafísicas<br />

ou físicas, estéticas ou políticas. Esse equilíbrio favorece o dinâ-<br />

——————————<br />

127 Denis de Rougemont, L’Un et le Divers, op. cit., p. 47. Cf. Attilio Danese, «Un<br />

module théorique personnaliste pour le fédéralisme européen: unité-diversité», in: Du<br />

Personnalisme au Fédéralisme Européen, op. cit., p. 85 ss.<br />

128 Id., Le Cheminement des Esprits, Neuchâtel, La Baconnière, 1970, p. 28.<br />

129 Id., L’Un et le Divers, op. cit., p. 41-42.<br />

130 Id., L’Un et le Divers, op. cit., p. 21. Cf. também, Inédits, p. 114.

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