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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 17<br />

mesmas injustiças que o egoísmo pessoal entre os indivíduos» 24 .<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é ao escrito de 1802 que remonta a afirmação de que<br />

é preciso «considerar as relações sociais como fenómenos fisiológicos»<br />

25 , índice <strong>do</strong> escopo científico que Saint-Simon queria conferir<br />

ao estu<strong>do</strong> das sociedades.<br />

No seu primeiro escrito não anónimo, Introduction aux travaux<br />

scientifiques du XIX. e siècle (1807), o autor propõe que apenas a ciência<br />

poderá permitir a superação das várias crises; ora, um sistema filosófico-científico<br />

deve ser construí<strong>do</strong> sobre bases duma verdade inquestionável,<br />

e a lei da gravitação será o cerne dum novo «fisicismo» 26 .<br />

Além disso, muito crítico que era sobre a história convencional, propõe<br />

que ela seja substituída por uma análise <strong>do</strong> «desenvolvimento<br />

geral da inteligência humana», ao mo<strong>do</strong> como Con<strong>do</strong>rcet o fez em<br />

Tableau historique des progrès de l’esprit humain (1795). Na opinião<br />

saint-simoniana, há uma conexão distinta entre eventos históricos e<br />

o pensamento humano; o progresso no pensamento cresce em conjugação<br />

com eventos históricos relevantes: assim Descartes surgiu depois<br />

de Lutero, o trabalho de Locke é impensável sem a Revolução inglesa;<br />

afinal, «os grandes pensamentos e as grandes revoluções são o<br />

resulta<strong>do</strong> de grandes fermentações morais» 27 . Então, «que resulta<strong>do</strong><br />

científico prodigioso poderemos esperar da fermentação causada pela<br />

Revolução francesa?»<br />

Com Mémoire sur la science de l’homme (1813, não publica<strong>do</strong> de<br />

seguida), há mais um passo nesta trajectória: não é <strong>do</strong>s físicos nem <strong>do</strong>s<br />

matemáticos que espera algo em prol da unificação europeia, mas<br />

——————————<br />

24 Ib., pp. 43-44, nota 4.<br />

25 Ib., p. 40. Com esta expressão, Saint-Simon propõe uma regra meto<strong>do</strong>lógica: as<br />

relações sociais devem ser analisadas como o são os factos fisiológicos, isto é, sem considerações<br />

extraídas da ordem natural ou da ordem sobrenatural. Visa-se erradicar <strong>do</strong><br />

estu<strong>do</strong> das sociedades o apriorismo corrente no tempo, a crença espiritualista na ordem<br />

pré-estabelecida de Joseph de Maistre. Cf. Maxime Leroy, op. cit., p. 31 ss.<br />

26 Cf. Saint-Simon, Introduction aux travaux scientifiques du XIX siècle [1807-08],<br />

Œuvres, vol. VI.<br />

27 Ib., p. 157. Ven<strong>do</strong> a história como uma sucessão entre «perío<strong>do</strong>s orgânicos» e<br />

«perío<strong>do</strong>s críticos», afirma: «A ordem cronológica das épocas não é mais a ordem filosófica;<br />

em lugar de dizer: o passa<strong>do</strong>, o presente, o futuro, é necessário dizer o passa<strong>do</strong>,<br />

o futuro e o presente. Com efeito, é somente quan<strong>do</strong>, pelo passa<strong>do</strong>, se concebeu o futuro,<br />

que poderemos retornar utilmente ao presente, que mais não é que um ponto, de mo<strong>do</strong><br />

a apreender o seu verdadeiro carácter. Estas considerações, aplicáveis a uma qualquer<br />

época, são-no, com muito maior razão, à época actual». Catéchisme des industriels<br />

[1823-24], III. e Cahier, vol. IV, op. cit., p. 124.

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