Revista (PDF) - Universidade do Minho
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46<br />
DIACRÍTICA<br />
A ideia de «fraternidade europeia» construída pelas nações <strong>do</strong><br />
continente sem perder as suas qualidades distintas e a sua própria<br />
individualidade, fundan<strong>do</strong>-se uma unidade superior, será insistentemente<br />
anunciada. No Congresso da Paz, em Paris (1849), no seu<br />
discurso de abertura 93 , bastante aplaudi<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> como base o sufrágio<br />
universal, a difusão de ideias, a circulação económica, declara:<br />
«Um dia virá em que vós França, vós Rússia, vós Itália, vós Inglaterra,<br />
vós Alemanha, vós to<strong>do</strong>s, nações <strong>do</strong> continente, sem perder as vossas<br />
qualidades distintas e a vossa gloriosa individualidade, vos fundireis<br />
estreitamente numa unidade europeia, e constituireis a fraternidade<br />
europeia, absolutamente como a Normandia, a Bretanha, a Borgonha,<br />
a Lorena, a Alsácia, todas as nossas províncias, se fundiram na França.<br />
Um dia virá em que não haverá mais outros campos de batalha que os<br />
merca<strong>do</strong>s abrin<strong>do</strong>-se ao comércio e os espíritos abrin<strong>do</strong>-se às ideias.<br />
Um dia virá em que as balas e as bombas serão substituí<strong>do</strong>s pelos<br />
votos, pelo sufrágio universal <strong>do</strong>s povos, pelo venerável arbítrio dum<br />
grande sena<strong>do</strong> soberano que será para a Europa o que o parlamento é<br />
para a Inglaterra, o que a dieta é para a Alemanha, o que a Assembleia<br />
legislativa é para a França! (Aplausos). Um dia virá em que mostraremos<br />
um canhão nos museus como mostramos hoje aí um instrumento<br />
de tortura, admiran<strong>do</strong>-nos que isso possa ter aconteci<strong>do</strong> (Risos<br />
e bravos)».<br />
Em 1851, Victor Hugo é obriga<strong>do</strong> a retirar-se para Bruxelas, na<br />
sequência <strong>do</strong> golpe de esta<strong>do</strong> de 1851, ten<strong>do</strong>-se proclama<strong>do</strong> o Império,<br />
em 1852. Luis Napoleão Bonaparte, sobrinho de Napoleão I, tinha<br />
conquista<strong>do</strong> o povo e a Assembleia, impon<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio, a opressão, a<br />
tutela sobre a imprensa e a universidade (supressão das agregaçôes de<br />
História e Filosofia), pressão eleitoral, vigilância, etc. Victor Hugo,<br />
publica Napoleon-Le-Petit, instalan<strong>do</strong>-se em Jersey, <strong>do</strong>nde será expulso<br />
em 1856.<br />
A ideia de futuro como esperança que conduz à liberdade e à<br />
humanidade é retomada, pelo autor, quan<strong>do</strong> se dirige aos polacos:<br />
«(…) saudemos a aurora abençoada <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da Europa!<br />
——————————<br />
93 Victor Hugo, «Congrès de la Paix à Paris – Discours d’ouverture» (21 août<br />
1849)», in: Politique, p. 301. E prossegue: «Um dia virá em que veremos esses <strong>do</strong>is grupos<br />
imensos, os Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da América, os Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da Europa (aplausos), coloca<strong>do</strong>s<br />
um em frente <strong>do</strong> outro, estenden<strong>do</strong> a mão por cima <strong>do</strong>s mares, trocan<strong>do</strong> os seus<br />
produtos, o seu comércio, a sua indústria, as suas artes, os seus génios, (…) e combinan<strong>do</strong><br />
juntos, para o bem-estar de to<strong>do</strong>s, estas duas forças infinitas, a fraternidade <strong>do</strong>s<br />
homens e o poder de Deus! (longos aplausos)» (ib.).