Revista (PDF) - Universidade do Minho
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JUSTIÇA DOMÉSTICA E JUSTIÇA POLÍTICA 239<br />
concepçom aristotélica 11 . Com efeito, como temos visto, na Pol., a<br />
sujeiçom <strong>do</strong>s escravos aparece às vezes como um efeito (neste caso,<br />
injusto) da «justiça política». E algo similar acontece, menos claramente,<br />
mas nom com menor acuidade, coa sujeiçom das mulheres 12 :<br />
na Pol., como antes na Étc.Nic. e ainda tamém na Ret., deixa ver-se a<br />
debilidade, se nom até mesmo a caréncia, <strong>do</strong> seu fundamento 13 .<br />
Enfim, por to<strong>do</strong>s estes motivos, justiça <strong>do</strong>méstica e justiça política<br />
tenhem umha articulaçom práctica chea de dificuldades e, até mesmo,<br />
de surpresas. Ao cabo, a despeito das analogias estabelecidas na Étc.<br />
Nic., resultam ser dificilmente correlacionáveis: mais bem, interrelacionam-se,<br />
produzin<strong>do</strong> a sua diferença ajustes e desajustes e até, algumha<br />
vez, efeitos inespera<strong>do</strong>s. Refiro-me, por exemplo, à prescindibilidade<br />
da escravitude ou à ineficiéncia (e práctico desvanecimento) <strong>do</strong><br />
patriarca<strong>do</strong>… sob o prisma de algumhas fórmulas da justiça política<br />
(nomeadamente, como ja antes aludimos, a democrácia) 14 .<br />
——————————<br />
11 Sobre a achega e debate actuais sobre a escravitude segun<strong>do</strong> o estagirita, é<br />
esclarece<strong>do</strong>r o brevíssimo apontamento: F. Wolff, «Note sur l’esclavage», no seu Aristote<br />
et la politique, PUF, Paris, 1997, 2.ª, pp. 77-82.<br />
12 De to<strong>do</strong> isto, o feminismo tem tira<strong>do</strong> bom parti<strong>do</strong>, nom só em senti<strong>do</strong> crítico e<br />
desconstrutivo senom, tamém, numha perspectiva construtiva e alternativa. Umha<br />
mostra: M.J. Vaz Pinto, «O que os filósofos pensam sobre as mulheres: Platão e Aristóteles»,<br />
in M.L. Ribeiro Ferreira (org.), O que os filósofos pensam sobre as mulheres,<br />
Centro de Filosofia da <strong>Universidade</strong> de Lisboa, Lisboa, 1998, pp. 17-39.<br />
13 Nom está de mais lembrar que, nos seus escritos biológicos, ainda que nom<br />
chega a desembaraçar-se da bagage androcentrista, sesgada e deprecia<strong>do</strong>ra,… o estagirita<br />
atribui, em geral, à mulher um maior e melhor papel, que o até entom reconheci<strong>do</strong>.<br />
Sobre este ponto: P. Allen, The Concept of Woman - The Aristotelian Revolution 750 B.C.-<br />
A.D. 1250, W.B. Eerdmans Publishing Co., Michigan/Cambridge, 1985, 1997.<br />
14 Estou a pensar, a respeito <strong>do</strong> patriarca<strong>do</strong>, na exploraçom e o desenvolvimento<br />
de <strong>do</strong>us apontamentos que achamos na Pol., 1319b27-30 e 1323a3-6, referi<strong>do</strong>s às<br />
mulheres e à democrácia.