Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
230<br />
A justiça política<br />
DIACRÍTICA<br />
A «justiça política» (1134a26) é apresentada, no cap. 6 <strong>do</strong> liv. V,<br />
como aquela que existe «entre aqueles que levam umha certa vida em<br />
comum para ter autarquia, persoas livres e – ora proporcionalmente<br />
ora quantitativamente – iguais» (1134a26-28) 3 . Apesar da escuridade<br />
desta indicaçom, é patente que o seu ámbito é a comunidade política,<br />
mais exactamente, as relaçons entre os cidadáns. Por outras palavras,<br />
a justiça política dá-se entre «cidadáns». Ora, o que nom é claro é se<br />
ela se acha, indiferenciadamente, em todas ou, especificamente, só<br />
em algumha das relaçons citadinas. Aristóteles semelha contemplar<br />
ambas as possibilidades, referin<strong>do</strong> esta justiça primeiro, em geral, à<br />
«cidadania» e despois, em particular, à governaçom. Na verdade, Aristóteles<br />
só deixa cair umhas mínimas indicaçons: umhas, relativas<br />
à condiçom de cidadám e a existéncia da cidade; outras, relativas à<br />
funçom <strong>do</strong> governante e o uso <strong>do</strong> governo.<br />
De entrada, Aristóteles assinala que, propriamente falan<strong>do</strong>, só<br />
hai justiça e injustiça se hai lei: i.e., para aqueles entre os quais rege<br />
algumha lei. Ainda mais, esta circunstáncia é expressamente ligada à<br />
(existéncia da) justiça institucional, talvez aqui (metonimicamente)<br />
representada pola instituiçom judiciária, ja que se di que a ela compete<br />
efectivar «o discernimento <strong>do</strong> justo e <strong>do</strong> injusto» (1134a32). Em outras<br />
partes da Étc.Nic., insiste-se na mesma idea: neste senti<strong>do</strong>, afirma-se<br />
que hai justiça, em VIII/9, entre os que «participam de algumha<br />
comunidade» (1159b29) e, em VIII/11, entre os que «participam de<br />
algumha lei ou convénio» (1161b6-7). E tal acontece, como nessas<br />
mesmas páginas é indica<strong>do</strong>, paradigmaticamente e proeminentemente<br />
na comunidade política. Obviamente, isto di respeito a toda (qualquer)<br />
justiça que terá que ser, por tanto, política. Todas elas integram, em<br />
consequéncia, a justiça política, amplamente entendida. Ora ben, vista<br />
a dependéncia da justiça a respeito da legalidade, convém – antes de<br />
prosseguir – fazer umha pontualizaçom: isto nom quer dizer nem que<br />
to<strong>do</strong> o legal seja justo nem que to<strong>do</strong> o justo seja legal; antes ben, isso<br />
significa só que a lei é o alicerce e/ou o horizonte – às vezes, bem<br />
longínquo – de qualquer justiça. O que equivale a dizer que toda ela<br />
remete, em primeira e em última instáncia, para a justiça política.<br />
A questom é complexa e fica, aqui, só indicada.<br />
——————————<br />
3 Partimos, por suposto, <strong>do</strong> texto grego, e assumimos a inteira responsabilidade<br />
das traduçons que oferecemos.