Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
174<br />
DIACRÍTICA<br />
reconhecen<strong>do</strong> a força daquelas, e a fatalidade destas. Lastimará, com<br />
repulsa, como nos fizeram crer que éramos um «rebanho miserável de<br />
escravos semi-bárbaros e comprazi<strong>do</strong>s escravos incapazes de apreciar<br />
a liberdade e a independência e indignos de a gozar», para impedir ou<br />
retardar o impulso natural da conquista da liberdade; mas não esconderá<br />
o esta<strong>do</strong> das desgraças. É Garrett que escreve:<br />
Porém –– outros padecimentos e afrontas os emparelhavam na miséria e<br />
agravos: porque reduzi<strong>do</strong>, como já disse, a colónia de suas colónias,<br />
governa<strong>do</strong> por um despotismo delega<strong>do</strong> (o pior e mais insustentável de<br />
to<strong>do</strong>s os despotismos), corrupto e impotente; Portugal sem comércio,<br />
porque lho tolhera e arruinara o gabinete <strong>do</strong> Rio 109 ; sem indústria,<br />
porque lha empeciam; sem agricultura, porque lha vedavam; sem administração,<br />
porque não é administração o peculato desfaça<strong>do</strong> e público, o<br />
roubo e a venalidade patente, – descera ao mais abjecto, mais vilipendioso<br />
esta<strong>do</strong>, a que jamais se viu baixar nação sem haver perdi<strong>do</strong><br />
sua independência; conquanto pouco era a independência de um Esta<strong>do</strong><br />
na máxima parte governa<strong>do</strong> por estrangeiros 110 delega<strong>do</strong>s de um chefe<br />
ausente 111 .<br />
É apenas uma ocasião deste reconhecimento. O opúsculo O dia<br />
vinte e quatro de Agosto já o fizera em 1821, e repeti-lo-ia noutros<br />
escritos, discursos, jornais… No tabuleiro europeu, desde há muito<br />
que Portugal bailava entre a ordem natural <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com assomos e<br />
algumas vitórias no encalço da liberdade, e os caprichos, interesses e<br />
compressões da Europa mandante. Ora, será entre a oportunidade da<br />
crise europeia que se vinha arrastan<strong>do</strong>, e que adquirira novos e mais<br />
promissores contornos com o Woterloo <strong>do</strong>s Povos e a perspectiva de<br />
consecução de uma possível sua Santa Aliança, e a necessária ordem<br />
interna da dialéctica internacional que, em última análise, terá de ser<br />
de civilização, de progresso e de liberdade, que Garrett irá construir o<br />
figurino das condições e alternativas para reposição da pátria na<br />
Europa, a que por direito geográfico e acção civilizacional pertence, tal<br />
como lhe convém ser na nova ordem <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> político civiliza<strong>do</strong> 112 .<br />
——————————<br />
109 Nota <strong>do</strong> autor: «Nem uma só provisão se fez a benefício <strong>do</strong> comércio de<br />
Portugal quan<strong>do</strong> se abriram os portos <strong>do</strong> Brasil a todas as nações.»<br />
110 Nota <strong>do</strong> autor: «Um inglês comandava o exército; outro, (o ministro residente<br />
em Lisboa) era membro nato da regência <strong>do</strong> Reino.»<br />
111 Ib.: 66/67.<br />
112 Como se repara, são palavras <strong>do</strong> subtítulo <strong>do</strong> PBE. Veja-se, também, o artigo<br />
III da Primeira secção.