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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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148<br />

DIACRÍTICA<br />

Haia <strong>do</strong> ano de 1756 19 . É pleno de significa<strong>do</strong> o facto deste escrito<br />

considerar o tremor de terra como uma bênção <strong>do</strong> céu contra a Inglaterra<br />

e a favor <strong>do</strong> equilíbrio europeu, na medida em que ele abalava<br />

também, pelo menos temporariamente, uma das bases principais<br />

de sustentação da grandeza daquele país rival. Entretanto, o mesmo<br />

Bernardes Branco revela ter saí<strong>do</strong> em Copenhague, em 1759, um<br />

artigo de título «Portugal» 20 , explanan<strong>do</strong> precisamente as mesmas<br />

ideias. Ora, tamanho investimento tornar-se-ia inexplicável sem a<br />

mácula <strong>do</strong> calculismo.<br />

A mesma peugada seguem, por exemplo, o Comte d’Albon 21 , e<br />

mais descaradamente Bourgoing, por sinal ministro plenipotenciário<br />

da França em Espanha, na conhecida Voyage du ci-devant duc de<br />

Chatelet 22 . De Dumouriez, explicitaremos apenas a finalidade que<br />

anunciou para a construção da sua obra: ser útil à sua nação no acréscimo<br />

<strong>do</strong> seu peso na balança da Europa 23 . Com outras poderíamos<br />

continuar a ilustração, mas basta. Acrescentaremos apenas que esta<br />

patente intencionalidade não evitou, e pouco diluiu os efeitos nefastos<br />

<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> valorativo de pen<strong>do</strong>r negativo que generalizadamente<br />

veicularam sobre nós.<br />

Uma terceira nota, ditada pela intensa frequência com que aparece,<br />

prende-se com o descompasso abissal entre a degradada situação<br />

de Portugal coevo e a quase mitificada situação <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. Na verdade,<br />

o reconhecimento <strong>do</strong> nosso peso na balança europeia <strong>do</strong>s<br />

séculos XV e XVI, é quase lugar comum em to<strong>do</strong>s os géneros da época,<br />

históricos ou literários, que tematizam Por-tugal. Assim foi, por<br />

exemplo, com Voltaire, em Essai sur les moeurs et l’esprit des nations<br />

(1756), onde enaltece como incomparáveis Gama e Albuquerque, ou<br />

com o já referi<strong>do</strong> abade Raynal, na divulgadíssima Histoire des établis-<br />

——————————<br />

19 Ib.: 140 e segs.<br />

20 Ib.: 143<br />

21 COMTE D’ALBON, Discours politiques, historiques et critiques sur quelques gouvernemens<br />

de l’Europe. Londres, 1779-1785, 3.º vol.: 156.<br />

22 BOURGOING, J. Fr., Voyage du ci-devant duc du Chatelet en Portugal… 2 tomes.<br />

Paris, Chez F. Buisson, 1798. Diz o editor numa introdução própria: «Le Portugal, un des<br />

pays avec lesquels nous avons, ou du moins nous pouvions avoir le plus de relations<br />

comerciales, une des puissances du second ordre qui nous intéressent le plus sous<br />

le rapport de la politique, le Portugal est très-peu connu, sur-tout par les français»<br />

(1.º tome: I).<br />

23 DUMOURIEZ, Charles François Duperrier, État présen du royaume de Portugal en<br />

l’année MDCCLVI. Lausanne, François Grasset, 1775: 54. Correu por cá, também uma<br />

2.ª edição de 1797, de Hambourg, Chez Chateauneuf.

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