Revista (PDF) - Universidade do Minho
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retorno para o político após o seu perío<strong>do</strong> económico-anarquista.<br />
Podemos partir dum comum equívoco «saint-simoniano» <strong>do</strong> fim <strong>do</strong><br />
político, isto é, <strong>do</strong> sonho que influenciou o século XIX, da época em<br />
que preponderava a fórmula que a «administração das coisas» substituiria<br />
o governo <strong>do</strong>s homens 83 . A questão nevrálgica, <strong>do</strong> âmbito estrito<br />
da política, é o da coexistência entre o «uno e o diverso» e, consequentemente,<br />
o da instância da igualdade entre Esta<strong>do</strong>s numa tal<br />
estruturação federativa.<br />
b) O apelo mágico de Europa<br />
DIACRÍTICA<br />
É, contu<strong>do</strong>, Victor Hugo (1802-1885), cuja obra foi revisitada ao<br />
longo <strong>do</strong> ano de 2002 84 , desde a poesia, o romance, o teatro, à obra<br />
histórica e crítica, enfim, os textos e trechos onde lirismo e epopeia se<br />
aliam numa obra original e sempre aberta à análise, e que o apelo<br />
mágico de Europa atingiu uma dimensão romântico-política. Não pode,<br />
pois, olvidar-se a intensa e incansável actividade política, nas palavras<br />
e nos actos, que muito contribuíram para renovar o pensamento sóciopolítico.<br />
É dificilmente imaginável como Hugo, no seu tempo, pudesse<br />
ter apresenta<strong>do</strong> uma concepção prospectiva <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, tenaz defensor<br />
<strong>do</strong>s direitos humanos, lutan<strong>do</strong> pela abolição da pena de morte, pela<br />
igualdade social, os direitos da criança e a emancipação da mulher.<br />
Todavia, mais dificilmente imaginável é como Hugo defendeu então o<br />
desarmamento, a constituição duma Sociedade das Nações e, especialmente,<br />
<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da Europa.<br />
Filho da Revolução Francesa e inspira<strong>do</strong> pelos socialistas utópicos,<br />
como Fourier e Saint-Simon, o seu pensamento está em conso-<br />
——————————<br />
83 Atente-se na seguinte passagem, muito expressiva, de Comte, ao tempo ainda<br />
secretário de Saint-Simon: «A política científica exclui radicalmente o arbitrário, porque<br />
faz desaparecer o absoluto e o vago que o engendraram e que o mantêm. Nesta política,<br />
a espécie humana é considerada como sujeita a uma lei natural de desenvolvimento,<br />
susceptível de ser determinada pela observação, e que prescreve, para cada época, da<br />
maneira menos equívoca, a acção política que pode ser exercida. O arbitrário cessa, pois,<br />
necessariamente. O governo das coisas substitui o <strong>do</strong>s homens» (Auguste Comte, «Plan<br />
des travaux scientifiques nécessaires pour réorganiser la société» [1822], Système de politique<br />
positive, t. IV, p. 102; cf. tr., Reorganizar a sociedade, tr. A. Ribeiro, Lisboa, Guimarães<br />
Editores, p. 136.<br />
Cf. também Patrice Rolland, «La théorie proudhonienne du fédéralisme et l’Europe<br />
aujourd’hui», Raison Présente, n.º 114, 1995, p. 73 ss.<br />
84 Victor Hugo nasceu (1802-1885) em Besançon, ten<strong>do</strong>-se, em 2002, um pouco<br />
por to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>, mas especialmente em França, comemora<strong>do</strong> o seu bicentenário, <strong>do</strong>s<br />
mais diversos mo<strong>do</strong>s.