Revista (PDF) - Universidade do Minho

FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 15
II. Pensando a Europa institucional
Com o título, Da Reorganização da Sociedade Europeia 18 , Saint-
-Simon (1760-1825) publica um Projecto duma concepção inteiramente
nova: primeiramente, rompe com as tradições de Sully e de
Saint-Pierre 19 , cujo suporte seriam alianças de Príncipes, e propõe a
eleição de deputados europeus pelas corporações, ou profissões que
representariam; depois, coloca o problema europeu no terreno dos
«interesses comuns e dos compromissos sólidos»; assenta ainda o
Plano na instância económica, prefigurando de certo modo o futuro
Mercado Comum 20 ; enfim, estabelece um projecto com a configu-
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18 O título completo e o nome dos autores apresentam-se assim: De la réorganisation
de la société européenne ou De la nécessité et des moyens de rassembler les peuples
d’Europe en un seul corps politique en conservant à chacun son indépendance nationale,
«par M. le Comte de Saint-Simon et Augustin Thierry son élève», aparecido em Outubro
de 1814, em Paris, «imprimé chez Adrien Egron, rue des Noyers, n.º 37».
Utilizaremos a edição Œuvres de Claude-Henri de Saint-Simon, 6 vols., Genève,
Slatkine Reprints, 1977.
19 Sobre estes (e outros) Planos, cf. o nosso trabalho já citado, «Filosofia e Ideia
de Europa: cosmopolitismo e paz no «Iluminismo»», Revista Portuguesa de Filosofia, 58
(2) Abril-Junho 2002, pp. 223-254 (em especial, pp. 232-241).
Saint-Simon discutiu, por razões diversas, estes dois Planos de paz na Europa.
No primeiro, associado a Henrique IV, a principal ideia era que cada soberania deveria
assegurar o interesse geral antes do próprio – os interesses particulares; mas tal jamais
ocorrerá, muito embora Henrique IV pudesse estar animado de nobres intenções.
Um outro Plano, o do Abade de Saint-Pierre, falhou por duas razões principais: por um
lado, não assegurava o interesse geral dos povos europeus, mas apenas os interesses
particulares dos monarcas; por outro, um excessivo poder dos reis sufocou o surgimento
duma nova e não feudal Europa. Cf. Richard Swedberg, «Saint-Simon’s vision of a
United Europe», Archives Européennes de Sociologie, 35 (1) 1994, pp. 153-154.
Sobre Saint-Simon, cf. Georges Dumas, Psychologie de deux Messies Positivistes:
Saint-Simon et Auguste Comte, Paris, Félix Alcan Éditeur, 1905. Maxime Leroy, Le socialisme
des producteurs: Henri de Saint-Simon, Paris, Librairie Marcel Rivière, 1924, p. 31
ss. Georges Gurvitch, Les fondateurs français de la sociologie contemporaine, I. Saint-
-Simon, Paris, Centre de Documantation Universitaire/Sorbonne, 1955, p. 15 ss. Émile
Durkheim, Le socialisme [1895-1896], Paris, Quadrige/P.U.F., 1992, p. 118 ss. Jean-Luc
Yacine, La question sociale chez Saint-Simon, Paris, L’Harmattan, 2001. Olivier Pétré-
Grenouilleau, Saint-Simon: l’utopie ou la raison en actes, Paris, Payot, 2001.
20 Jacques Delors afirma mesmo: «On croirait entendre Jean Monnet; Denis
Rougemont ne s’y trompe pas qui voit en Saint-Simon le «vrai précurseur de la tendance
institutionnelle du XX.e siècle, qui a produit le marché commun», puis-je ajouter, l’Acte
unique Européen, le projet d’Union économique et monétaire» (Jacques Delors, «28
siècles d’Europe; essai de commentaire», in: Denis de Rougemont, 28 siècles d’Europe
[1961], Christian de Bartillat, 1990, p. V).