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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 65<br />

é em nenhuma hipótese o quai d’Orsay, que temos <strong>do</strong>ravante de<br />

defender contra a hegemonia de Berlim: é a realidade federal da<br />

Europa» 134 . Apelava assim a uma Europa federal, livremente escolhida<br />

pelos povos, ten<strong>do</strong> por referência, inicialmente, o princípio federativo<br />

de Proudhon; ao nível teórico, o discurso estava já esclareci<strong>do</strong><br />

por Mounier em Anarquia e Personalismo: «Não vejo mais diferença<br />

prática entre as fórmulas <strong>do</strong> Princípio Federativo [Proudhon] e as<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de inspiração pluralista de que o personalismo por mais de<br />

uma vez esboçou a inspiração» 135 . A sua posição era contu<strong>do</strong> crítica<br />

para com o federalismo europeu: ele fala de equívocos a propósito<br />

da ideia corrente de federalismo 136 . Para Denis de Rougemont, ao<br />

contrário, não há hesitação: «Tipicamente europeia será, pois, a vontade<br />

de referir ao homem, de medir pelo homem todas as instituições.<br />

Este homem da contradição (se na criação a <strong>do</strong>mina), é o que eu<br />

chamo a pessoa. E estas instituições à sua medida, à altura <strong>do</strong> homem,<br />

traduzin<strong>do</strong> na vida da cultura como nas estruturas políticas, as mesmas<br />

tensões fundamentais, chamá-las-ei federalistas» 137 .<br />

b) Europa: das culturas à cultura<br />

Constata-se amiúde que não poucos invocam a cada passo a «cultura»,<br />

o que pode ocorrer quer para esconder que nada têm a dizer,<br />

quer simplesmente para fazer diversão. A cultura pode assim aparecer<br />

——————————<br />

134 E. Mounier, «L’Europe contre les hégémonies», Esprit, n.º 74, 1938, p. 151.<br />

135 E. Mounier, «Anarchie et personnalisme», Œuvres, t. I, p. 693. Acerca da<br />

relação entre personalismo e federalismo, cf. B. Voyelle, Histoire de l’Idée Fédéraliste,<br />

Paris, Presses d’Europe, 1981, pp. 159-193.<br />

136 Propôs o número especial da revista Esprit, n.º 61, 1937. Trata-se certamente<br />

<strong>do</strong> receio de Mounier em deixar-se englobar por uma qualquer ideia de pertença. Para a<br />

Esprit, nesse ano de 1948, o federalismo é «uma pasta muito misturada com o<strong>do</strong>res<br />

suspeitos». A revista proclama-se em favor de um federalismo de «enraizamento<br />

profun<strong>do</strong>» e quer-se vigilante para com as forças <strong>do</strong> imperialismo. Por relação com os<br />

anos 30, Esprit rompe ao mesmo tempo com Proudhon e com Rougemont. De resto, é<br />

uma homem da nova geração, Jean-Marie Domenach, que recusa também o que denomina<br />

de «Europa helvetizada» de Denis de Rougemont: «A «Europa helvetizada» que<br />

quer Rougemont seria um paraíso encanta<strong>do</strong>r, e é verdade que sobre alguns pontos as<br />

Suiças deram lições à Europa, mas esse protótipo tão consegui<strong>do</strong> apenas voou num ar<br />

calmo ao abrigo de altas montanhas, e não afrontou essas tormentas de aço, de miséria<br />

e de ódio, que deixam atrás de si, com ruínas, algumas verdades postas a nu». Cf. Pierre<br />

Grémion, «Personnalisme, Fédéralisme, Progressisme», in: Du personnalisme au fédéralisme<br />

européen, op. cit., pp. 125-133.<br />

137 Denis de Rougemont, in: O Espírito Europeu, op. cit., p. 161.

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