Revista (PDF) - Universidade do Minho
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Portugal na «balança da Europa»<br />
O carácter mitológico da origem <strong>do</strong> nome Europa, essa beldade<br />
fenícia, filha de Agenor, que o disfarça<strong>do</strong> Zeus, seduzi<strong>do</strong> pelos seus<br />
encantos, havia de raptar e perpetuar atribuin<strong>do</strong> o seu nome a um<br />
território, prolongou-se nas imprecisões <strong>do</strong> signo. São imprecisões<br />
que se vão tornan<strong>do</strong> patentes nos significa<strong>do</strong>s vagos e confusos que lhe<br />
foram atribuin<strong>do</strong> Gregos e Romanos por Heró<strong>do</strong>to, Aristóteles, ou<br />
Estrabão, respectivamente; nas variadas intensidades e extensões de<br />
uso <strong>do</strong> nome que, por vezes, quase se eclipsou; nas persistentes dificuldades<br />
de definição <strong>do</strong>s próprios limites geográficos; na tardia e<br />
ainda incompleta aquisição de um estatuto político 1 . E se a invasão<br />
árabe foi oportunidade flagrante para germinar esta consciência política<br />
que teve em Carlos Magno forte corporização, o que é certo é que,<br />
com a morte deste, o nome Europa e o classificativo ocidentalidade<br />
encontrarão proeminente substituição no latino termo christianitas 2 .<br />
——————————<br />
Das representações estrangeiras<br />
à leitura estratégica de Garrett<br />
FERNANDO AUGUSTO MACHADO<br />
(<strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> <strong>Minho</strong>)<br />
1 Podem precisar-se algumas destas temáticas com DUROSELLE, Jean-Baptiste, no<br />
artigo «Europe» da Encyclopédie Universalis.<br />
2 Sobre esta problemática remetemos para o oportuno e interessante artigo de<br />
Acílio Estanqueiro Rocha «Linguagem e Europeísmo: babelização ou pluralismo linguístico?»<br />
(Diacrítica, n.º 11 (1996), 5-35, que, logo no seu início, recorre à velha pergunta, na<br />
formulação husserliana de 1935, «o que é que caracteriza a figura espiritual da Europa?».<br />
Entretanto, «Da Europa como cultura» é um artigo de feição problematizante de<br />
Eduar<strong>do</strong> Lurenço, integra<strong>do</strong> na obra <strong>do</strong> próprio, Nós e a Europa ou as duas razões<br />
(Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 4.ª edição aumentada, 1994: 157-164), e que consideramos<br />
de pertinente leitura. Finalmente, sem preocupações de extensão bibliográfica,<br />
tem oportunidade a obra de Enrique Moreno Báez, Los cimientos de Europa (<strong>Universidade</strong><br />
de Santiago de Compostela, 1996, 2.ª ed.) que dá título ao primeiro capítulo precisamente<br />
com a pergunta Que és Europa.<br />
DIACRÍTICA, FILOSOFIA E CULTURA, n.º 17/2 (2003), 141-182