Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
160<br />
DIACRÍTICA<br />
como exemplo, a diminuição da população 71 , vector importante e pertinente<br />
para a formação de opinião, e as causas que subjazem a esse<br />
fenómeno: mau esta<strong>do</strong> da agricultura, miséria <strong>do</strong> campesinato, emigração,<br />
desprezo <strong>do</strong>s campos, primogenituras, luxo <strong>do</strong>s lavra<strong>do</strong>res,<br />
número de mendigos, miséria <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res, número de celibatários 72 .<br />
Mas mesmo no campo estritamente cultural, o descompasso que Balbi<br />
se esforça por atenuar, revela-se, na verdade, abismal, ten<strong>do</strong> em conta<br />
os números que avança. De facto, que significa<strong>do</strong> têm, por exemplo,<br />
as nossas 100 publicações em média por ano, entre 1800 e 1820, onde<br />
estão incluídas as traduções e os jornais, face às cerca de 250 da<br />
Noruega, ou às cerca de 3500 francesas? Que valiam 16 casas de impressão<br />
em 1821, já depois da revolução, com a liberdade a funcionar,<br />
comparativamente às 45 da Suécia ou às 71 <strong>do</strong> pequeno reino<br />
de Milão 73 ?<br />
Como se vê, os atrasos arrastam-se e prolongam-se. Nesta base, é<br />
curiosa e não deixa de ter certo cabimento a evocação de modelo biológico<br />
feita por Dumouriez para explicar a pouca saúde <strong>do</strong> nosso corpo<br />
social, em 1766: todas as partes da sociedade interdependem como as<br />
<strong>do</strong> corpo: um povo supersticioso que cultive pouco letras e artes, não<br />
pode ter governo bem regula<strong>do</strong> 74 . Borgoing, a caminho <strong>do</strong> fim <strong>do</strong><br />
século, caracterizava também, em forma de círculo vicioso e em jeito<br />
de conclusão, a nossa condição: «Vê-se por este resumo quantos obstáculos<br />
se opõem ainda à prosperidade de Portugal. Para os ultrapassar,<br />
seria necessário um governo com um vigor superior ao vulgar, e o que<br />
existe é fraco. Seriam precisas luzes, e os que o cercam e <strong>do</strong>minam têm<br />
grande cuida<strong>do</strong> em afastá-las dele» 75 . Os tempos áureos, realmente, já<br />
lá iam há muito. Na excursão que faz sobre o nosso país, o Comte<br />
d’Albon não esquece essa grandeza, mas não ilude também, na análise<br />
em que se reporta à década da Revolução Francesa, o quase descalabro<br />
que nos toca no campo das letras, auguran<strong>do</strong> que muitas mudanças<br />
terão ainda que acontecer para fazer reluzir de novo a capacidade literária<br />
antiga 76 .<br />
——————————<br />
71 Veja-se o caso desta zona minhota: entre 1801 e 1820, o conjunto <strong>do</strong>s distritos<br />
de Barcelos, Braga e Guimarães sofriam uma quebra de mais de 20.000 habitantes<br />
(BALBI, ib: 192/193).<br />
72 Ib.: 236-240.<br />
73 Ib.: 93<br />
74 DUMOURIEZ, op. cit.: 220.<br />
75 BOURGOING, op. cit., II: 227.<br />
76 D’ALBON, op. cit., III: 203.