Revista (PDF) - Universidade do Minho
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26<br />
DIACRÍTICA<br />
rejeita<strong>do</strong> ou essencialmente mau, fiz o que entendi fazer, se um outro<br />
plano qualquer for admiti<strong>do</strong>» 46 .<br />
Não basta, pois, organizar a vida económica da sociedade europeia:<br />
a «sociedade industrial» não é constituída apenas por interesses<br />
mas igualmente por sentimentos: se na sociedade feudal o povo se<br />
sentia exalta<strong>do</strong> pelas glórias militares, carece-se, na sociedade industrial,<br />
duma «paixão pela produção» 47 . Saint-Simon enfatiza que<br />
um <strong>do</strong>s grandes progressos que o cristianismo desenvolveu nas ideias<br />
morais foi subordinar as afeições patrióticas ao amor geral da humanidade.<br />
Trata-se já de um outro capítulo <strong>do</strong> sistema saint-simoniano;<br />
e, se surpreende que o adversário <strong>do</strong> sistema teológico, o funda<strong>do</strong>r da<br />
filosofia positiva, sustenha que «um Novo Cristianismo é a única<br />
<strong>do</strong>utrina social que pode convir aos Europeus no presente estádio <strong>do</strong><br />
seu esclarecimento e civilização» 48 , essa exigência decorre <strong>do</strong> Novo<br />
Cristianismo (1825), o último que escreveu sem o ter chega<strong>do</strong> a<br />
concluir, onde afirma: «Afectamos um desprezo arrogante para com os<br />
séculos que se designam de Idade Média (…), e não prestamos atenção<br />
que é o único tempo em que o sistema político da Europa esteve<br />
funda<strong>do</strong> numa verdadeira base, numa organização geral (…):<br />
enquanto ela subsistiu, houve poucas guerras em Europa e essas guerras<br />
tiveram pouca importância» 49 . Se na Idade Média os povos<br />
estavam liga<strong>do</strong>s pelo espiritual, devem-no agora estar pelo espiritual e<br />
pelo temporal. Às duas principais tarefas da União Europeia – paz e<br />
prosperidade –, exige-se uma terceira, patente nas últimas páginas da<br />
obra, onde Saint-Simon critica os participantes da Santa Aliança, que<br />
não entenderam que uma comunidade não pode ser dirigida somente<br />
pela espada, mas deve prosseguir uma tarefa moral; mais precisamente,<br />
Saint-Simon diz aos reis que devem organizar a Europa por<br />
uma via que seja a mais vantajosa, isto é, «um esta<strong>do</strong> de bem-estar<br />
físico e moral para as mais numerosas classes». Importa que esta orga-<br />
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46 Ib., p. 244.<br />
47 Saint-Simon, Du système industriel [Suite et Fin de la Seconde Partie, 1821),<br />
Œuvres, vol. 3 (t. III), p. 40. Saint-Simon encarregou Rouget de L’Isle, o conheci<strong>do</strong> autor<br />
da Marseillaise, para compor um hino para a sociedade industrial. O resulta<strong>do</strong> foi «O<br />
canto <strong>do</strong>s industriais» , que foi canta<strong>do</strong> por trabalha<strong>do</strong>res numa Missa, em 1821, em<br />
que Saint-Simon tomou parte. Saint-.Simon, Chant des industriels [1821], Œuvres,<br />
vol. 6, pp. 449-451 (com transcrição músical).<br />
48 C.-H. Saint-Simon, Nouveau Christianisme (1825), Œuvres, vol. 3, p. 186.<br />
49 C.-H. Saint-Simon, De la réorganisation de la société européenne [1814], Œuvres,<br />
vol. I, pp. 173-174.