Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
JUSTIÇA DOMÉSTICA E JUSTIÇA POLÍTICA 233<br />
midade <strong>do</strong> seu exercício, é devi<strong>do</strong>: na realeza, à suficiéncia <strong>do</strong> monarca<br />
(1160b3); na aristocrácia, aos méritos <strong>do</strong>s governantes (1160b32-33); e<br />
na timocrácia, às rendas <strong>do</strong>s cidadáns (1160a32). Cumpriria adir que<br />
o fundamento na oligarquia é a riqueza, sen<strong>do</strong> nas outras desviaçons<br />
(a tirania, a democrácia) mais ou menos o mesmo que nos seus correspondentes<br />
regimes (a realeza, a timocrácia). Com isto, temos umha<br />
certa idea de em que consistem esses pareci<strong>do</strong>s: <strong>do</strong> matrimónio coa<br />
aristocrácia (ou a oligarquia); da paternidade coa realeza; e da escravitude<br />
coa tirania (mas sen<strong>do</strong> aquela, para<strong>do</strong>xalmente, justa).<br />
Logo, no cap. 11, manten<strong>do</strong> estes símeis, Aristóteles examina, em<br />
cada caso, a amizade e, associada a esta mas ao cabo superpon<strong>do</strong>-<br />
-se-lhe, a justiça. Começa polos regimes e os seus análogos <strong>do</strong>mésticos.<br />
Das desviaçons e os seus análogos, só contemplará a tirania e<br />
a escravitude.<br />
Primeiro, na realeza e entre o pai e os filhos, a amizade e a justiça,<br />
embora diferin<strong>do</strong> na sua substáncia, baseam-se igualmente «na superioridade»<br />
(1161a19-20), por suposto, a superioridade <strong>do</strong> rei e a <strong>do</strong> pai,<br />
neste caso, por ser ele «responsável da existéncia» (1161a16) e, ainda,<br />
da «criança e educaçom» (1161a17) <strong>do</strong>s filhos, consistin<strong>do</strong> entom a<br />
justiça, para eles e para com eles (o rei, o pai), nom na igualdade<br />
«senom no (correspondente ao) mérito» (1161a21). A seguir, na aristocrácia<br />
e entre o home e a mulher, a amizade e a justiça fundam-se «na<br />
exceléncia ou virtude» (1161a23), que, por suposto, existe sobreto<strong>do</strong><br />
ou, mais ben, é superior nos governantes e no home, de tal mo<strong>do</strong><br />
que, na amizade e na justiça, «para o melhor – quer dizer, para este<br />
(e estes), o home (e os governantes) – seja mais bem e para cada o<br />
adequa<strong>do</strong>» (1161a23-24). Enfim, na timocrácia e entre os irmáns,<br />
apontemos só que a amizade e a justiça residem na igualdade.<br />
Por outra parte, nas desviaçons, quase nom cabe, excepto na<br />
democrácia, nem a amizade nem a justiça. É o caso da tirania e o seu<br />
análogo, a escravitude 6 . Com efeito, a amizade e a justiça nom pode<br />
——————————<br />
6 É um tema, Aristóteles e a escravitude, secularmente e hoje, muito debati<strong>do</strong>.<br />
Na perspectiva contemporánea, pode ver-se: M. Schofield, «Ideology and Philosophy in<br />
Aristotle’s Theory of Slavery», in G. Patzig, Aristoteles’ «Politik», Vanderhoeck & Ruprecht,<br />
Göttingen, 1990, pp. 1-27 e, a seguir aí mesmo, Ch.H. Kahn, «Comments on M. Schofield»,<br />
pp. 28-38. Quanto ao célebre debate, no limiar da modernidade, entre Juan Ginés<br />
de Sepúlveda e Bartolomé de Las Casas, sobre a admisibilidade da escravitude e co aristotelismo<br />
ao fon<strong>do</strong>, pode ver-se: B. Fernández Herrero, «La justicia en el pensamiento<br />
español del siglo XVI. La búsqueda de la justicia en la conquista de América», in VV.AA.,<br />
En torno a la justicia, ed. cit., pp. 87-130.