Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
JUSTIÇA DOMÉSTICA E JUSTIÇA POLÍTICA 235<br />
e o poderio menciona<strong>do</strong>s no cap. 10, que lhe resta à mulher para, recolhen<strong>do</strong><br />
o aponta<strong>do</strong> no cap. 8 (1159b1-2), chegar a igualar-se – equiparar-se<br />
– «amistosa e virtuosamente» ao seu parceiro e, em consequéncia,<br />
lograr neutralizar o <strong>do</strong>mínio que ele exerce sobre ela. É mais,<br />
para Aristóteles este é o único mo<strong>do</strong> a través <strong>do</strong> qual, em perfeita<br />
justiça (ou, polo menos, nom na «imperfeita» justiça more oligarquia),<br />
a mulher poderia igualar-se ao home e equilibrar a sua relaçom.<br />
É importante que nom esqueçamos que, ainda que estejamos a<br />
falar de amizade, se trata de questons de justiça. Lembra-no-lo o<br />
próprio Aristóteles quan<strong>do</strong>, concluin<strong>do</strong> o cap. 12, assinala que, nestes<br />
relacionamentos, o <strong>do</strong> home coa mulher e em to<strong>do</strong>s os outros, o que<br />
cumpre investigar, acerca «de como devem viver» (1162a29), é o que é<br />
«o (mo<strong>do</strong>) justo» (1162a31).<br />
Com to<strong>do</strong> isto, temos ja umha ampla visom da «justiça <strong>do</strong>méstica».<br />
Mas, para recapitular, deitaremos assemade umha rápida olhada<br />
sobre a Pol., que nos permitirá destacar a sua heterogeneidade e irredutibilidade,<br />
mas tamém a sua dependéncia, a respeito da «justiça<br />
política» 7 .<br />
A justiça <strong>do</strong>méstica e a justiça política<br />
De entrada, convém salientar, como fica claro na Pol., que a <strong>do</strong>mesticidade<br />
capitaliza, quase totalmente e decrecentemente, a actividade<br />
<strong>do</strong> escravo, a da mulher e a <strong>do</strong> neno. Bem que de mo<strong>do</strong> distinto,<br />
to<strong>do</strong>s eles estám encerra<strong>do</strong>s na casa (e sob a férula <strong>do</strong> home, amoesposo-pai)<br />
8 . Em síntese, pola sua «reduzida entidade», que é segun<strong>do</strong><br />
Aristóteles um efeito da (sua) natureza, estes tres seres som coloca<strong>do</strong>s<br />
fora <strong>do</strong> ámbito da «justiça política». Ora, antes que serem alheos<br />
ao político, eles resultam excluí<strong>do</strong>s da política. Como veremos, os<br />
tres som objecto da «justiça política», mas só podem ser sujeitos (por<br />
pouco que o sejam) no ámbito da «justiça <strong>do</strong>méstica».<br />
——————————<br />
7 Um estu<strong>do</strong> crítico, extenso e pormenoriza<strong>do</strong>, em perspectiva feminista (exactamente,<br />
nom-androcéntrica, segun<strong>do</strong> a própria autora), é: A. Moreno Sardà, La otra<br />
«política» de Aristóteles. Cultura de masas y divulgación del arquetipo viril, Icaria, Barcelona,<br />
1988.<br />
8 Inclusive as achegas mais clásicas, feitas hoje, nom podem deixar sem, como<br />
mínimo, registar estas «estridéncias» (para começar, epocais,…) existentes no ámbito<br />
<strong>do</strong>méstico. Valha, como exemplo, a exposiçom de C. Despotopoulos, «La famille», no seu<br />
Aristote sur la famille et la justice, Ousia, Bruxelles, 1983, pp. 11-44.