Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
172<br />
DIACRÍTICA<br />
ocasiões maltrata os ingleses. De facto, os jornais O Português e<br />
O Cronista incluem até artigos que, a não serem li<strong>do</strong>s como peças de<br />
estratégia ideológica, são bajula<strong>do</strong>res daqueles, pelo incentivo à imitação<br />
da sua moral superior. Seja como for, Garrett não conseguirá<br />
esconder ao lon<strong>do</strong> desta sua mais acabada obra política, a sedução<br />
pela França, sede paradigmática, esta sim, das revoluções pela liberdade,<br />
e histórica aliada natural <strong>do</strong>s oprimi<strong>do</strong>s. As suas palavras são<br />
inequívocas e entusiastas:<br />
Ponde os olhos no povo francês, no grande povo, no povo modelo <strong>do</strong>s<br />
outros povos, e vereis quanto pode a só, desajudada e desarmada força<br />
de uma nação que ousa querer, e fortemente sabe querer ser livre. Imitaia<br />
nessa deliberada e resoluta vontade; imitai-a em seu valor na peleja, em<br />
sua constância quan<strong>do</strong> vencida, na moderação quan<strong>do</strong> vence<strong>do</strong>ra 106 .<br />
Em 1789, lembra, já ela fora centro de luta da civilização contra o<br />
gótico, ten<strong>do</strong>-se torna<strong>do</strong> faísca de explosão <strong>do</strong>s acumula<strong>do</strong>s combustíveis<br />
gera<strong>do</strong>s por regimes tirânicos. Com máculas? Certamente, mas<br />
não perden<strong>do</strong> o senti<strong>do</strong> correcto. Consumin<strong>do</strong> as labaredas coisas<br />
indevidas? Sem dúvida, mas esses excessos traduzi<strong>do</strong>s em desman<strong>do</strong>s,<br />
decorreram da intensidade <strong>do</strong> fogo, potenciada pela demasiada<br />
acumulação de combustíveis 107 . Agora, em 1830, voltava a ser o palco<br />
central <strong>do</strong>s figurantes, o peso regula<strong>do</strong>r da balança, a bandeira da<br />
esperança <strong>do</strong>s oprimi<strong>do</strong>s, a protagonista de um Waterloo <strong>do</strong>s povos<br />
contra o sistema <strong>do</strong> secretismo áulico, enfim, ocasião privilegiada<br />
para assestar passos decisivos conducentes à libertação, concretamente<br />
à nossa.<br />
A compreensão destes sentimentos cruza<strong>do</strong>s, em matéria de valorações<br />
<strong>do</strong>s intervenientes externos no tabuleiro político, será indispensável<br />
à percepção correcta de aparentes tergiversações nos julgamentos,<br />
arranjos e projecções <strong>do</strong>s figurinos de equilíbrio da balança política<br />
europeia ou mundial.<br />
O lugar fundamental que a imagem de «balança da Europa», de<br />
equilíbrio nas relações de poder entre as diferentes nações, ocupa no<br />
modelo garrettiano, determina que os processos e opções de cada país,<br />
se projectem necessariamente para a globalidade. Já em O Cronista<br />
(n.º 9, 29 Abril-5 Maio 1827) Garrett enunciava esta lei de reciproci-<br />
——————————<br />
106 Ib.: 19.<br />
107 Ib.: 46.