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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 167<br />

bases aleivosas <strong>do</strong>s seus trata<strong>do</strong>s, transforman<strong>do</strong> o chama<strong>do</strong> direito<br />

de intervenção em força de invasão.<br />

*<br />

O sonho de paz e de felicidade das nações protagoniza<strong>do</strong> pelo<br />

abade de S. Pierre gerou-se, sobretu<strong>do</strong>, pela ambiência <strong>do</strong> seu contrário.<br />

Como to<strong>do</strong>s os sonhos, mesmo que encara<strong>do</strong>s como irrealizáveis<br />

no plano político, não deixou de ser projecto no plano intelectual,<br />

situação que normalmente acaba por predispor opções generalizáveis<br />

e criar necessidades alternativas que têm que ver com a ordem social<br />

concreta. Foi assim que aconteceu com as obras deste abade académico,<br />

nomeadamente com o Projet pour rendre la paix perpétuel en<br />

Europe (1713) e o Traité pour rendre la paix perpétuel entre les Souverains<br />

Chrétiens (1717). Ti<strong>do</strong> como mais prega<strong>do</strong>r que político, poucos<br />

o levaram a sério. Rousseau não foi desses, e considerá-lo-ia nas suas<br />

Confessions como «homem raro, o homem <strong>do</strong> seu século e da sua<br />

espécie e talvez o único desde a existência <strong>do</strong> género humano que<br />

não teve outra paixão para além da da razão» 95 . Leu durante <strong>do</strong>is anos<br />

os seus escritos e trabalhou-os, repensan<strong>do</strong>-os, fundamentan<strong>do</strong>-os e<br />

crian<strong>do</strong>, nessa base, projectos de feição substancialmente diferente,<br />

devi<strong>do</strong> à projecção que para eles fez das bases <strong>do</strong> seu pensamento<br />

político-social geral. Foi nesta base que elaborou o esboço de associação<br />

federativa das pequenas nações como forma de defesa, com<br />

base no princípio que é nas grandes diferenças sociais que se fundam<br />

a anarquia e as revoluções. Mas é sobretu<strong>do</strong> a outros <strong>do</strong>is níveis que as<br />

diferenças se vão notar:<br />

a) O abade dirigia a sua mensagem aos reis no senti<strong>do</strong> de constituírem<br />

uma liga contra toda a guerra e na defesa <strong>do</strong> status<br />

territorial; Rousseau projectou em termos de povos. Desta forma,<br />

à maneira <strong>do</strong> seu Contrato social, uma confederação europeia<br />

não poderia estabelecer-se senão entre nações soberanas e<br />

<strong>do</strong>nas <strong>do</strong>s seus destinos. A guerra deixava, assim, de ser função<br />

de caprichos de um qualquer monarca, governo ou cortesão.<br />

b) O abade concebia uma união europeia sob a égide da razão;<br />

Rousseau ultrapassou este abstractismo, buscan<strong>do</strong> elemen-<br />

——————————<br />

95 ROUSSEAU, Oeuvres Complètes, Paris, Gallimard, I: 422

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