Revista (PDF) - Universidade do Minho
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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 47<br />
Oh! essa será uma realização esplêndida! Não mais fronteiras, alfândegas,<br />
guerras, exércitos, proletaria<strong>do</strong>, ignorância, miséria; todas as<br />
explorações culpáveis suprimidas, todas as usurpações abolidas, a<br />
riqueza duplicada» 94 . De tal forma Victor Hugo crê nesta união de<br />
paises europeus, que, no Congresso da Paz ern Lausanne (1869), se<br />
dirige assim aos congressistas: «Concidadãos <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da<br />
Europa: Permitam-me tratar-vos assim, porque a República europeia<br />
federal está fundada em direito, esperan<strong>do</strong> que o seja de facto. Vós<br />
existis, porque ela existe. Vós a constatais pela vossa união que esboça<br />
a unidade. Sois o começo <strong>do</strong> grande futuro» 95 .<br />
Incansável no seu propósito, e como se os tempos parecessem<br />
sem mudança, lê-se em Pela Sérvia (1876): «O que se passa na Sérvia<br />
demonstra a necessidade <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s-Uni<strong>do</strong>s da Europa. Que aos<br />
governos desuni<strong>do</strong>s sucedam os povos uni<strong>do</strong>s. Acabemos com os<br />
impérios homicidas. (…) A República da Europa, a Federação continental,<br />
não há outra realidade política que essa. Os raciocínios o constatam,<br />
os acontecimentos também» 96 . E prossegue: «Nós vamos surpreender<br />
os governantes europeus para que aprendam uma coisa: que<br />
os crimes são crimes, e que não é mais permiti<strong>do</strong> a um govemo, como<br />
não o é a nenhum individuo, ser assassino. Porque a Europa é solidária<br />
e tu<strong>do</strong> o que se faz na Europa é feito pela Europa; e se existe um<br />
govemo animalesco e feroz, este deve ser trata<strong>do</strong> como animal feroz;<br />
e que neste momento, muito perto de nós, aí, sob os nossos olhos,<br />
massacra-se, incendeia-se, pilha-se, extermina-se, degolam-se os pais e<br />
as mães, vendem-se as meninas e os meninos; (…) queimam-se as<br />
famílias dentro de suas casas; (…) os cemitérios estão atulha<strong>do</strong>s de<br />
cadáveres que não foi possivel enterrar, de mo<strong>do</strong> que aos sobreviventes<br />
——————————<br />
94 Victor Hugo, «Vingt-Troisième Anniversaire de la Revolution Polonaise» (1853),<br />
in: Politique, p. 445.<br />
95 Victor Hugo, «Congrès de la Paix à Lausanne» (1869), in: Politique, p. 623.<br />
96 Victor Hugo, «Pour la Serbie» (1876), in: Politique, p. 951.<br />
Inicia assim o texto: «É necessário chamar a atenção <strong>do</strong>s governos europeus para<br />
um acontecimento que parece tão pequeno, que os governos parecem não o avistar. Eis<br />
o acontecimento: assassinam um povo. Onde? Na Europa. Este acontecimento tem<br />
testemunhas? Uma testemunha, o mun<strong>do</strong> inteiro. Os govemos vêem-no? Não. As nações<br />
têm acima delas alguma coisa que está por debaixo delas, os governos. Em certos<br />
momentos, este contra-senso explode: a civilização está nos povos, a barbárie está nos<br />
governantes. Esta barbárie é ela desejada? Não. Ela é simplesmente profissional. O que<br />
o género humano sabe, os governos ignoram-no. Isso porque os governos não vêem<br />
nada senão através desta miopia, a razão de Esta<strong>do</strong>; o género humano olha com um<br />
outro olho: a consciência».