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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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54<br />

partes de povos que têm o seu passa<strong>do</strong> comum no helenismo, na latinidade,<br />

no judaísmo e no cristianismo» 110 . E exclama: «Eu descrevo<br />

a felicidade tal como a imagino na actual sociedade da Europa e<br />

da América, ao mesmo tempo extenuada e sedenta de poder» 111 .<br />

O copioso acervo <strong>do</strong>s inéditos levar-nos-ia mais longe, mas as suas<br />

obras principais permitem haurir as suas ideias, ditas vezes sem conta,<br />

nas mais variadas formas e tonalidades – quais variações da melodia<br />

nietzscheana ao longo de várias peças musicais.<br />

b) Perscrutan<strong>do</strong> a «Europa <strong>do</strong> espírito»<br />

DIACRÍTICA<br />

Navegan<strong>do</strong> noutras águas, mas inquirin<strong>do</strong> dum outro mo<strong>do</strong> a<br />

significação da Europa <strong>do</strong> Espírito, Edmund Husserl (1859-1938) põe<br />

a questão fundamental: «a figura espiritual da Europa, que é isso?»<br />

E responde: é o espírito da filosofia, nascida da Grécia. «A Europa <strong>do</strong><br />

espírito teve o seu lugar de nascimento. E enten<strong>do</strong> por isso menos um<br />

lugar geográfico situa<strong>do</strong> num certo país (ainda que isso se possa<br />

defender) que um lugar espiritual situa<strong>do</strong> numa certa nação. É a<br />

antiga nação grega <strong>do</strong>s séculos VII e VI a.C. É nela que se desenvolve<br />

uma nova espécie de atitude perante o mun<strong>do</strong> circundante (…) Nesta<br />

irrupção, arrastan<strong>do</strong> com ela todas as ciências, vejo, por para<strong>do</strong>xal<br />

que isso pareça, o fenómeno primordial da Europa espíritual» 112 .<br />

Na verdade, foi com os gregos que surgiu esta atitude nova por relação<br />

com a teoria, que os levou a buscar em comum as verdades universais<br />

113 . A crise das ciências europeias, escrita quan<strong>do</strong> tinha 76 anos,<br />

por isso também o seu testamento filosófico, pretendeu mostrar que<br />

——————————<br />

110 Friedrich Nietzsche, «Le voyageur et son ombre» [1880], Humain, trop<br />

humain, t. III-1 Œuvres Philosophiques Complètes, edição cit., §. 215, pp. 273-274.<br />

111 Friedrich Nietzsche, Aurore [1880], t. IV, Œuvres Philosophiques Complètes,<br />

edição cit., §. 271, p. 189.<br />

112 Edmund Husserl, Die Krisis des Europäischen Menschentums und die Philosophie<br />

/ La crise de l’humanité européenne et la philosophie [1935], ed. bilingue, tr. P.<br />

Ricœur, Paris, Aubier Montaigne,1977, pp.27-29.<br />

113 Cf. a interessante análise de João Paisana sobre estes pontos: Husserl e a<br />

ideia de Europa, Porto, Edições Contraponto, 1997, pp. 74-76. Com efeito, importa assinalar<br />

o unilateralismo husserliano sobre uma pretensa exclusividade da herança europeia<br />

face à filosofia grega; por exemplo, nem o pensamento árabe se compreende fora<br />

<strong>do</strong> horizonte da filosofia grega nem se verificou historicamente uma linearidade da<br />

tradição entre a Europa e a Grécia antiga. J. Paisana contrapõe a isso a atitude <strong>do</strong>s<br />

que, inversamente a essa linearidade exclusiva, referem hoje, incisivamente, uma<br />

ruptura, poden<strong>do</strong> até conduzir a uma alternativa: Atenas ou Jerusalém?, de L. Chestov<br />

(cf., ib., p. 73, nota 42).

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