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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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14<br />

DIACRÍTICA<br />

seus laços brutais, a emancipação <strong>do</strong> determinismo <strong>do</strong> instinto animal,<br />

a conquista da racionalidade enquanto faculdade de pensar universalmente;<br />

numa palavra, a humanização <strong>do</strong> homem. É por isso que África,<br />

que permaneceu ao nível das tribos e <strong>do</strong>s clãs em luta perpétua, que<br />

não conhece o Esta<strong>do</strong> e o direito, está, para Hegel, fora da história <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>. Portanto, excepto a Ásia que conhece a primeira fase, é a<br />

Europa, e ela somente, que é o teatro da história <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> 16 . O eurocentrismo<br />

de Hegel é total; a maior parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> está fora da<br />

forma-Esta<strong>do</strong>, fora da liberdade: o «espírito <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>» nada tem a<br />

fazer com ela.<br />

Hegel dá um lugar privilegia<strong>do</strong> a Europa mas não nos apresenta<br />

dela um conceito defini<strong>do</strong>, apesar de dilucidar à exaustão os instrumentos<br />

conceptuais pertinentes – Espírito de um povo, sociedade civil,<br />

Esta<strong>do</strong>. A questão desponta, pois, naturalmente: Hegel revela-se<br />

incapaz de conceber a essência da Europa, e porquê, ou a Europa é<br />

efectivamente indefinível, e porquê? Capaz de exaurir o conceito,<br />

Hegel não apresenta, nem pode apresentar um conceito de Europa,<br />

não porque ela não fosse <strong>do</strong> seu tempo, mas porque Europa não é<br />

susceptível duma definição conceptual, como nos damos conta no<br />

dealbar <strong>do</strong> século XXI.<br />

É patente, contu<strong>do</strong>, a repercussão que a teoria hegeliana <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

teve no pensamento político alemão 17 ; basta citar aqui Bismarck,<br />

Treitschke, e to<strong>do</strong>s aqueles que, mistura<strong>do</strong>s com as polémicas sobre a<br />

unificação da Alemanha, viram no Esta<strong>do</strong> nacional a forma suprema<br />

de organização das sociedades e a prova irrefutável da superioridade<br />

<strong>do</strong>s povos «históricos»; ou aqueles que, ao invés, o «condenaram sem<br />

apelo»; por outro la<strong>do</strong>, «o tema da decadência <strong>do</strong> Ocidente está implicitamente<br />

conti<strong>do</strong> no conceito de «devir histórico», e a corrente que,<br />

através de Lasaulx e Burckhardt, chega a Nietzsche, parte de Hegel<br />

tanto como de Schelling e <strong>do</strong>s Românticos.<br />

——————————<br />

16 Cf. Maria Moneti Codignola, op. cit., pp. 138-139.<br />

17 Jean Nurdin, L’Idée d’Europe dans la Pensée Allemande à l’Époque Bismarckienne,<br />

Francoforte, Peter Lang, 1980, p. 35.

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