04.07.2013 Views

Revista (PDF) - Universidade do Minho

Revista (PDF) - Universidade do Minho

Revista (PDF) - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 155<br />

<strong>do</strong> país em geral, prende-se com a apertada rede conventual e a densidade<br />

fradesca. Este foi um <strong>do</strong>s aspectos que mais impressionou os<br />

nossos vizitantes. É assunto que tem si<strong>do</strong> muito lembra<strong>do</strong>, e por isso<br />

apenas damos alguns ecos caracteriza<strong>do</strong>res da imagem que fizeram<br />

correr <strong>do</strong> nosso esta<strong>do</strong> clerical e <strong>do</strong> respectivo clero:<br />

«É aqui o país <strong>do</strong>s frades», lê-se em Pierre Carrere 48 , «aqui estabeleceram<br />

a sede <strong>do</strong> seu império, a sede <strong>do</strong> seu despotismo. Temerosos,<br />

são capazes de fazer tremer governos». A descrição alonga-se e<br />

é violenta. Não deixa de apontar excepções, mas em campos de valoração<br />

oposta: positivas, admitin<strong>do</strong> que há ordens edificantes; negativas,<br />

desdenhan<strong>do</strong> de um clero secular sem méritos, mais ignorante<br />

que o regular, mais preguiçoso, sem dignidade, aspecto este bem<br />

visível na própria indumentária. E decreta: Homem bem nasci<strong>do</strong> não<br />

pode ser padre secular 49 !<br />

Estamos perante uma pintura que de forma alguma é desgarrada:<br />

Dumouriez fala de clero extenso (200.000), ignorante, impune e libertino,<br />

e de freiras enclausuradas com hábitos viciosos que encontraram<br />

padrão de alta estirpe no convento de Odivelas, onde tinham sede<br />

trezentas religiosas que mais eram e se comportavam como cortesãs<br />

lindas e coquettes, e que foram reserva privilegiada de apetites carnais,<br />

que deram vários frutos, concretamente por mediação de D. João V, e<br />

que mantinham um ou mais amantes nas horas vagas 50 ; H. Ranque<br />

retoma o quadro e faz a mesma ilustração régia; mesmo o sensato<br />

Ruders não deixará incólume tal classe nesta matéria, e identificará<br />

alguns <strong>do</strong>s que desfrutaram esses amores proibi<strong>do</strong>s, como sen<strong>do</strong><br />

solda<strong>do</strong>s 51 ; o autor de Tableau de Lisbonne posicionará este nosso<br />

clero em geral como um <strong>do</strong>s mais libertinos e corruptos da cristandade;<br />

o credível Link classificará os nossos monges de ignorantes<br />

e preguiçosos iliban<strong>do</strong>-os, contu<strong>do</strong>, desta última acusação, em duas<br />

circunstâncias: no cumprimento <strong>do</strong>s exercícios espirituais e na mesa 52 !<br />

Bourgoing põe na boca <strong>do</strong> pretenso protagonista Duque de Chatelet, os<br />

classificativos usa<strong>do</strong>s por Dumouriez, relevan<strong>do</strong> o escândalo freirático<br />

——————————<br />

48 P. CARRERE, op. cit.: 274.<br />

49 Ib.: 274/275<br />

50 DUMOURIEZ, op. cit.: 189.<br />

51 Já MERVEILLEUX (op. cit.: 183) se refere, em 1730, a esta imoralidade, mas<br />

projectada para os frades que se ausentavam <strong>do</strong>s conventos por um mês para irem a<br />

bordéis, e para os confessores que assentavam arraiais com esses intuitos em casa das<br />

penitentes.<br />

52 LINK, op. cit.: 9/10.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!