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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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236<br />

DIACRÍTICA<br />

A respeito <strong>do</strong> escravo, além de precisar aquela sua condiçom –<br />

assinalada na Étc.Nic. – de «instrumento anima<strong>do</strong>» (1161b3), na<br />

Pol., Aristóteles examina e assume, nom sem reparos, a justiça da<br />

escravitude 9 . Segun<strong>do</strong> precisa, em I/4, o escravo é «um subordina<strong>do</strong><br />

para a acçom» (1254a8), entenden<strong>do</strong> o tal subordina<strong>do</strong> como «um<br />

instrumento (antes) <strong>do</strong>s instrumentos» (1253b33): por outras palavras,<br />

o escravo é umha «possessom» e, como tal, «um instrumento para<br />

a acçom» (1254a16-17). Por outra parte, a possessom <strong>do</strong> amo e a<br />

pertença <strong>do</strong> escravo é justificada, no cap. 5, polas diferenças naturais<br />

(em concreto, psíquicas) existentes entre os humanos: tais diferenças<br />

fam que «por natureza» sejam «uns livres e outros escravos» (1255a1),<br />

sentencian<strong>do</strong> Aristóteles que para estes é à vez «conveniente e justa<br />

a escravitude» (1255a2). Conto<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> logo reconhece no cap. 6,<br />

existe porém escravitude injusta, ja que em algumhas ocasions<br />

«nom som por natureza, uns, os escravos e, outros, os livres» (1255b5)<br />

senom que som tais «convencionalmente e por violéncia» (1255b15).<br />

Nestas condiçons, nom se dam o «interesse e amizade recíprocas» que,<br />

segun<strong>do</strong> ele, existiriam entre o amo e o escravo que o som «por natureza»<br />

(1255b12-14). Obviamente, esta «amizade» hai que entendé-la<br />

cos caracteres restritos que vimos na Étc.Nic., em VIII/11. Além disso,<br />

na Pol., esses «interesses comuns» resultam ora muito matiza<strong>do</strong>s, e<br />

implicitamente nega<strong>do</strong>s, em III/6 (1278b32-37) ora abertamente<br />

nega<strong>do</strong>s em VI/2 (1317b13).<br />

A respeito da mulher 10 , na Pol., Aristóteles rubrica a sua inferioridade<br />

natural, que tem como consequéncia a sua subordinaçom ao<br />

home. Assi, em I/5, contemplan<strong>do</strong> «a relaçom <strong>do</strong> macho coa fémea»<br />

afirma que «por natureza é o primeiro superior e a segunda inferior»<br />

e que, por tanto, «o primeiro rege e a segunda é regida» (1254b13-14).<br />

Ora, apesar de formulada em termos tam físicos (macho/fémea), a<br />

diferença entre o home e a mulher é ao cabo, sen<strong>do</strong> por suposto<br />

natural, de ín<strong>do</strong>le psíquica. Coa mulher passa, mais ou menos, o que<br />

——————————<br />

9 Num exame mais demora<strong>do</strong> e pormenoriza<strong>do</strong>, haveria que entrar, seguin<strong>do</strong> ao<br />

estagirita, na análise da «violéncia» e a sua relaçom coa virtude. Como aproximaçom<br />

ao contexto, é interessante a achega geral: F. D’Agostino, Bia. Violenza e giustizia nella<br />

filosofia e nella letteratura della Grecia Antica, Giuffrè Editore, Milano, 1983, en especial<br />

os capítulos «Bia e Hybris», «Bia contro Dike» e «Bia con Dike», pp. 21-34, pp. 35-50<br />

e pp. 51-66.<br />

10 Um intento curioso de salvar o «politicamente incorrecto», acerca das mulheres<br />

e <strong>do</strong>s escravos: A. Cauquelin, Aristóteles, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1995,<br />

pp. 105-113.

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