04.07.2013 Views

Revista (PDF) - Universidade do Minho

Revista (PDF) - Universidade do Minho

Revista (PDF) - Universidade do Minho

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 13<br />

todavia, um conceito define-se quan<strong>do</strong> nos permite saber o que o distingue<br />

daquilo que ele não é. Ora, não há diferenciação nítida, exacta,<br />

rigorosa entre o que é o europeu e o que não o é; os limites culturais e<br />

materiais da Europa são ainda menos incisivos que os seus limites<br />

geográficos, quer os procuremos nas suas raízes passadas, nos seus<br />

laços presentes ou nos seus horizontes futuros. Não poderemos saber<br />

onde pára a Europa, a menos que se insista em exclusões artificiais ou<br />

em oposições relativas; para to<strong>do</strong> o conceito, como Hegel o exige, é<br />

preciso determinar o conteú<strong>do</strong> substancial constitutivo duma unidade<br />

e produtora duma diferença; como vimos, nas suas análises sobre o<br />

Esta<strong>do</strong>, ele põe em evidência o «espírito dum povo» como fundamento<br />

e a «sociedade civil» das necessidades como base; em definitivo, uma<br />

ideologia e um merca<strong>do</strong>. E, porventura, hoje será «talvez efectivamente<br />

isso, somente, a Europa… Importa ainda acrescentar que essa<br />

ideologia comum, reduzida ao que veiculam os sistemas mediáticos<br />

de comunicação, está longe de constituir o que Hegel entendia por<br />

«espírito dum povo», porque não há aí [hoje] nem espírito verdadeiro,<br />

nem mesmo realmente povo…» 13 .<br />

E, nesta perspectiva diacrónica, qual é a posição da Europa, em<br />

que os povos-nações são o porta-voz <strong>do</strong> «espírito universal» e em que<br />

parece não haver aí lugar nem para a dimensão <strong>do</strong> continente (no<br />

espaço), nem para uma estabilidade (no tempo) 14 ? Ora, se nesta perspectiva,<br />

em África ninguém é livre, na Ásia há «um só que é livre», na<br />

Grécia há ainda uma diferença entre livres e escravos (a liberdade<br />

realiza-se em vários), no mun<strong>do</strong> europeu moderno tal diferença desaparece<br />

e, finalmente, o homem é livre enquanto homem 15 , princípio<br />

que a era cristã e a reforma protestante, depois a revolução francesa,<br />

tornaram real e que Kant elevou ao nível da mais elevada racionalidade<br />

com a noção de autonomia <strong>do</strong> sujeito. A América será provavelmente<br />

«o povo <strong>do</strong> futuro», mas disso – dizia-o então Hegel – nada<br />

sabemos e não o podemos adivinhar.<br />

Um povo não ingressa como tal na história universal; somente<br />

aqueles que chegam a realizar um Esta<strong>do</strong>; o que quer dizer, não somente<br />

dar-se instituições políticas, mas sobretu<strong>do</strong> um direito e uma<br />

organização racional e não arbitrária da vida social. Podemos agora<br />

definir a liberdade: ela é a libertação da natureza, da escravatura <strong>do</strong>s<br />

——————————<br />

13 Cf. Bernard Rousset, op. cit., pp. 181-182.<br />

14 Cf. Maria M. Codignola, op. cit., pp. 136-138.<br />

15 G.W. F. Hegel, La Raison dans l’Histoire, op. cit., pp. 281-286.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!