Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
Revista (PDF) - Universidade do Minho
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
264<br />
DIACRÍTICA<br />
dade como estimular «no seu espírito reacções salutares». Não se<br />
entende, mesmo em nome da defesa da sociedade, como a possibilidade<br />
de um «internamento indefini<strong>do</strong>» podia desencadear, em alguém,<br />
a convicção que só dele dependia merecer a liberdade ou ter reacções<br />
salutares! E menos entendia essa medida um preso político, que, em<br />
nome da defesas dum certo modelo de sociedade e de regime político,<br />
pudesse ser enterra<strong>do</strong> vivo…Apesar destes absur<strong>do</strong>s, a verdade é que o<br />
Governo achou a medida sensata. Porquê? A questão é, cristalinamente,<br />
bem colocada pelo autor anónimo <strong>do</strong> supracita<strong>do</strong> opúsculo de<br />
1969, de que, amplamente, nos temos servi<strong>do</strong> na redacção deste texto.<br />
Segun<strong>do</strong> ele, há «uma corrente <strong>do</strong>utrinária (que) defendeu a subordinação<br />
das garantias fundamentais à parte organizatória da Constituição<br />
(de 1933), fazen<strong>do</strong> depender a consistência daquelas da vontade<br />
<strong>do</strong> legisla<strong>do</strong>r, desde que conformada com os poderes constitucionais<br />
defini<strong>do</strong>s na segunda parte da Constituição. Nesta concepção, a lei é<br />
sacrossanta – como dizia Marcello Caetano – ,o legisla<strong>do</strong>r omnipotente.<br />
A lei é a medida das liberdades e das garantias, o legisla<strong>do</strong>r pode<br />
estrangulá-las ou destruí-las, desde que obedeça aos trâmites normais<br />
<strong>do</strong> processo legislativo» 52 ; é esta <strong>do</strong>utrina que leva o Governo, usan<strong>do</strong><br />
da faculdade que lhe conferia o n. 2.º, <strong>do</strong> art. 109.º da Constituição,<br />
a decretar e promulgar que os directores <strong>do</strong>s estabelecimentos prisionais<br />
proporiam, com antecedência não inferior a sessenta dias,<br />
conforme os casos «a) a prorrogação, substituição ou cessação da pena<br />
ou medida de segurança; e b) a liberdade condicional e sua prorrogação,<br />
revogação ou conversão em liberdade definitiva» (art. 5.º <strong>do</strong><br />
decreto-lei supracita<strong>do</strong>, de 1956); e que, por sua vez, ficariam sujeitos<br />
a medidas de segurança e internamento, em estabelecimentos<br />
adequa<strong>do</strong>s, por perío<strong>do</strong>s indetermina<strong>do</strong>s, de seis meses a três anos –<br />
prorrogáveis por perio<strong>do</strong>s sucessivos de três anos – (1) to<strong>do</strong>s aqueles<br />
que fundassem «associações, movimentos ou agrupamentos de carácter<br />
comunista, ou que exerçam actividades subversivas, ou que tenham<br />
por fim a prática de crimes contra a segurança <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, ou que<br />
utilizem o terrorismo como meio de actuação, e bem assim aqueles<br />
que aderirem a tais associações, movimentos ou agrupamentos, com<br />
eles colaborarem ou seguirem, com ou sem aviso prévio, as suas<br />
instruções», (2); e to<strong>do</strong>s «aqueles que possibilitem conscientemente as<br />
referidas actividades subversivas, fornecen<strong>do</strong> local para reuniões,<br />
subsidian<strong>do</strong>-as ou permitin<strong>do</strong> a sua propaganda». Haven<strong>do</strong> justifi-<br />
——————————<br />
52 Anónimo, op. cit., p. 19.