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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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PORTUGAL NA «BALANÇA DA EUROPA» 175<br />

O tempo não era de esperas, portanto, face ao contexto favorável.<br />

Os acontecimentos de Paris de 1830, ano da edição <strong>do</strong> escrito que deu<br />

tema a esta reflexão, terão feito atribuir outra pertinência e outra<br />

urgência à obra. Não ilude o tema:<br />

As consequências da grande vitória da civilização, ganha em Paris, serão<br />

proporcionalmente mais ou menos prontas e eficazes nos diversos<br />

pontos <strong>do</strong> orbe que estão em circunstâncias de as sentir, segun<strong>do</strong> a<br />

variada natureza dessas circunstâncias. Não precisa demonstração.<br />

A aplicação <strong>do</strong> pressuposto ao país, desenvolve-se de seguida.<br />

A perspectiva de Portugal reaver um lugar que, pelo menos, fizesse<br />

recordar o distante passa<strong>do</strong>, afigurava-se a Garrett como real ou, pelo<br />

menos, mais possível. Criassem-se as circunstâncias!<br />

Este havia de ser o círculo de movimentação de Garrett.<br />

Na hora em que valem de novo os extremos, traz Rousseau à liça,<br />

como fizera no início da obra 113 : «Parece-me não carecer de demonstração<br />

que o mesmo Portugal que até aqui era, já ele não pode ser» 114 .<br />

A exigência de um homem novo, na óptica de Rousseau, de um homem-natural-da-cidade<br />

com padrões de naturalidade, para uma existência<br />

socializada, transferia-a Garrett para a exigência de um novo<br />

país para uma Europa <strong>do</strong>s povos que se erguia equilibrada segun<strong>do</strong> um<br />

novo princípio europeu dita<strong>do</strong>, mais uma vez, pela França das revoluções<br />

115 . A Europa adquiria, assim, no imaginário de Garrett, estatuto<br />

paralelo ao da sociedade rousseauniana <strong>do</strong> contrato; Portugal, ao<br />

<strong>do</strong> homem apropria<strong>do</strong> a essa sociedade.<br />

O senti<strong>do</strong> de realidade foi sempre apura<strong>do</strong> neste combatente da<br />

liberdade. Bastará comparar a evolução <strong>do</strong> seu senti<strong>do</strong> de luta com a<br />

evolução da história das lutas da pátria. O entusiasmo de cariz revolucionário<br />

com que viverá, nos verdes anos da sua mocidade, a revolução<br />

de 24 de Agosto, não obliterará o senti<strong>do</strong> de oportunidade com que<br />

——————————<br />

113 Já em O dia vinte e quatro de Agosto(1821), na Introdução, «ameaçara» recorrer<br />

ao genebrino, se necessário, para tecer argumentos e provar aos portugueses a legitimidade<br />

da nossa Revolução.<br />

114 PBE, p. 199.<br />

115 O homem <strong>do</strong> Contrato social, como sabemos, resulta, por um la<strong>do</strong>, da impossibilidade<br />

em manter como tal o homem-natural-da-natureza que, por imperativos de<br />

perfectibilidade, se socializava, e, por outro, da necessidade de libertar o homem actual,<br />

completamente conspurca<strong>do</strong> pelos vícios da sociabilidade. São <strong>do</strong>is momentos que<br />

Rousseau desenvolve no Discurso sobre a origem e fundamentos da desigualdade entre os<br />

homens e o Contrato social, respectivamente.

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