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Revista (PDF) - Universidade do Minho

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20<br />

DIACRÍTICA<br />

é, entre as classes produtivas e as classes ociosas, corresponde a uma<br />

linha de ruptura histórica entre um passa<strong>do</strong> que sobrevive e um futuro<br />

que desabrocha; a valorização <strong>do</strong> trabalho é patente também na sua<br />

obra: «Os homens entregues à indústria, e cuja colecção forma a sociedade<br />

legítima, só têm uma necessidade, é a liberdade: a liberdade, para<br />

eles, é de não serem mais constrangi<strong>do</strong>s ao trabalho da produção, de<br />

não serem perturba<strong>do</strong>s na fruição <strong>do</strong> que produziram» 33 . Ao concluir<br />

a sua Parábola [1819], ten<strong>do</strong> como axioma que «a sociedade actual é<br />

verdadeiramente o mun<strong>do</strong> inverti<strong>do</strong>», escreve com arrojo e ironia: «a<br />

nação admitiu como princípio fundamental que os pobres devem ser<br />

generosos para com os ricos, e que, em consequência, os menos favoreci<strong>do</strong>s<br />

devem privar-se quotidianamente de uma parte <strong>do</strong> que lhes é<br />

necessário para aumentar o supérfluo <strong>do</strong>s grandes proprietários»,<br />

rematan<strong>do</strong>: «porque, em suma, em to<strong>do</strong>s os géneros de ocupações, são<br />

os homens incapazes que têm como missão dirigir as pessoas capazes;<br />

e, no que à moralidade concerne, os homens mais imorais são chama<strong>do</strong>s<br />

a formar os cidadãos na virtude, e, no que à justiça distributiva diz<br />

respeito, são os grandes culpa<strong>do</strong>s os propostos para punir as faltas <strong>do</strong>s<br />

pequenos delinquentes» 34 .<br />

Sob o regime feudal, desenvolveu-se gradualmente o espírito<br />

industrial, que age no senti<strong>do</strong> da aproximação <strong>do</strong>s povos. Ora, é da<br />

natureza <strong>do</strong> industrialismo não se confinar aos limites duma sociedade<br />

determinada; quer dizer, um particularismo estreito é incompatível<br />

com a nova «sociedade industrial»; esta tende a expandir-se<br />

segun<strong>do</strong> uma configuração internacional. Segue-se que é materialmente<br />

impossível que o imenso labor de reorganização social se<br />

efectue apenas num <strong>do</strong>s povos europeus, sem se repercutir simultaneamente<br />

em to<strong>do</strong>s os outros; em consequência, «a nação francesa não<br />

pode ser tratada e curada isoladamente; os remédios que a podem<br />

curar devem ser aplica<strong>do</strong>s a toda a Europa» 35 . De facto, como escreve,<br />

——————————<br />

liga o povo como se pertencesse completamente ao mesmo corpo. A imagem organicista<br />

acentua-se quan<strong>do</strong> afirma: «l’industrie n’est qu’un seul et vaste corps <strong>do</strong>nt tous les<br />

membres se répondent et sont pour ainsi dire solidaires; le bien et le mal de chaque<br />

partie affecte toutes les autres» (Saint-Simon, L’Industrie [1817], Œuvres, vol. I, p. 137,<br />

nota 1). A indústria poderá também ajudar a diminuir os ódios entre as diferentes<br />

nações europeias; o nacionalismo deveria ser substituí<strong>do</strong> pelo europeísmo (Saint-Simon,<br />

Cathéchisme des industriels [1823-24] Œuvres, vol. IV (Premier Cahier), p. 200).<br />

33 C.-H. Saint-Simon, L’Industrie [1817], Œuvres, vol. I, p. 128.<br />

34 Saint-Simon, L’Organisateur [1819], Œuvres, vol. II, pp. 24-25. Sobre o conceito<br />

de «trabalho» em Saint-Simon, cf. J.-L. Yacine, op. cit., p. 137 ss.<br />

35 C.-H. Saint-Simon, L’Industrie [1817], vol. I (t.I, 2.ème partie], p. 100.

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