Revista (PDF) - Universidade do Minho
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FILOSOFIA DA EUROPA: QUESTÕES SOBRE A EUROPA 25<br />
de ordem social tendente para o bem comum, a melhor será aquela na<br />
qual as instituições serão organizadas e os poderes dispostos de tal<br />
mo<strong>do</strong> que cada questão de interesse público seja tratada da maneira<br />
mais aprofundada e mais completa» 43 . Para que cada questão seja<br />
tratada deste mo<strong>do</strong>, deverá existir uma «poder <strong>do</strong>s interesses gerais»<br />
e um «poder <strong>do</strong>s interesses particulares e locais»; um terceiro poder,<br />
«regula<strong>do</strong>r ou modera<strong>do</strong>r», equilibrará os anteriores e mantê-los-á nos<br />
seus limites. Quanto ao segun<strong>do</strong> requisito (ter em conta a prática constitucional<br />
já existente na Europa), afirma: «que não se pense que esta<br />
constituição seja uma dessas teorias impraticáveis, dessas especulações<br />
quiméricas que são boas quan<strong>do</strong> muito para exercitar a pena<br />
<strong>do</strong>s faze<strong>do</strong>res de livros; ela existe, ela subsiste desde há mais de cem<br />
anos, e esses cem anos de experiências apoiam o raciocínio. Um povo<br />
tornou-se por ela livre e o mais poderoso <strong>do</strong>s povos da Europa» 44 ; tal<br />
referência é alusiva à Inglaterra, governada por um Parlamento e onde<br />
são discerníveis três instâncias: o Rei com o «poder <strong>do</strong>s interesses<br />
gerais», a Câmara <strong>do</strong>s Comuns com o <strong>do</strong>s «interesses particulares e<br />
locais» e a Câmara <strong>do</strong>s pares com o «poder modera<strong>do</strong>r ou regula<strong>do</strong>r».<br />
Para obviar aos inconvenientes da hereditariedade, requer-se a existência<br />
dum primeiro-ministro, nomea<strong>do</strong> pelos Comuns. Deste mo<strong>do</strong>,<br />
«a Europa terá a melhor organização possível, se todas as nações que<br />
ela engloba, sen<strong>do</strong> governadas cada uma por um parlamento, reconheçam<br />
a supremacia dum parlamento geral coloca<strong>do</strong> acima de to<strong>do</strong>s<br />
os governos nacionais e investi<strong>do</strong> <strong>do</strong> poder de julgar os seus diferen<strong>do</strong>s»<br />
45 . Não me vou ater aos detalhes da configuração <strong>do</strong> Parlamento<br />
Europeu; o próprio autor admite a sua revisão: «o plano de<br />
organização que propus tem apenas uma função secundária; seja ele<br />
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43 C.-H. Saint-Simon, De la réorganisation de la société europénne [1814], Œuvres,<br />
vol. I, p. 183.<br />
44 Ib., pp. 187-188.<br />
45 Ib., p. 197. Nesta ordem de ideias, o Parlamento Europeu seria composto pelo<br />
Rei, uma Câmara <strong>do</strong>s Deputa<strong>do</strong>s eleitos, e uma Câmara de pares nomea<strong>do</strong>s pelo Rei e<br />
alguns por eleição. Não estabelecen<strong>do</strong> o processo de escolha inicial <strong>do</strong> Rei, contu<strong>do</strong> seria<br />
este que iniciaria a instituição <strong>do</strong> Parlamento, por uma via pacífica.<br />
Os Comuns deverão ser homens vocaciona<strong>do</strong>s para uma visão <strong>do</strong>s interesses da<br />
Europa: serão cientistas, homens de negócios, magistra<strong>do</strong>s ou administra<strong>do</strong>res, uma vez<br />
que são estas profissões que representam os interesses da indústria no seu conjunto, e<br />
eleitos para mandatos de dez anos pela corporação a que pertencem, mediante o voto<br />
<strong>do</strong>s homens que sabem ler e escrever. Supon<strong>do</strong> que a Europa tem sessenta milhões de<br />
homens nestas condições, cada milhão escolherá um de cada uma das categorias profissionais<br />
referidas, num total de duzentos e quarenta.